PROIBIÇÃO
das armas nucleares!



Os recentes ensaios nucleares, na Índia primeiro, no Paquistão depois, ensaios que o PCP firmemente condena, vem recolocar a questão do desarmamento nuclear na primeira linha dos grandes problemas de carácter "global" que urge solucionar. Ocupando presentemente a Presidência do Conselho de Segurança da ONU, Portugal deveria fazer ouvir com clareza a sua voz em defesa desta grande causa.

É particularmente inquietante que a problemática do desarmamento, e em primeiro lugar do desarmamento nuclear, tenha sido praticamente retirado da agenda da ONU. Pior ainda, que se desenvolva o militarismo e o intervencionismo agressivo e se assista a uma nova e sofisticada corrida às armas que envolve tanto o armamento convencional como o nuclear. A NATO em lugar de caminhar para a rápida desactivação do seu dispositivo militar reforça-o e expande a sua esfera de acção, intervindo de modo cada mais ostensivo nos Balcãs. Na União Europeia invoca-se a "moeda única" para dar um novo impulso na sua militarização e na adopção de uma "política externa e de segurança comum" que, em tempos de " globalização " e "competição " - ou seja, de expansão imperialista e guerra económica - faça valer os "interesses da Europa" na arena internacional.

A questão suscitada pelos ensaios nucleares e pela escalada da tensão que a acompanha é muito séria. De modo mais ou menos directo envolve um arco de países - Índia, Paquistão, China, Afeganistão, Ásia Central - que representam quase metade da população mundial. Uma região, berço de grandes civilizações, cobiçada pelas suas riquezas e situação geoestratégica onde, contrastando com um Paquistão militarista alinhado com os EUA a Índia não alinhada se tem afirmado como um factor de paz e de contenção dos propósitos de hegemonia planetária do imperialismo.

Particularmente nas relações Índia/Paquistão existem problemas muito complexos e sensíveis legados pela História (fronteiriços, étnicos, religiosos...) que estão a ser explorados pelos sectores mais reaccionárias e obscurantistas para iludir problemas de fundo do desenvolvimento sócio - económico e de dependência externa. Perante as desastrosas consequências das políticas neoliberais e das imposições do FMI agita-se o fantasma do " inimigo externo" para obscurecer a fundamental raiz de classe da tragédia social em que estão mergulhadas as grandes massas do sub- continente, desviando o seu potencial revolucionário para o pantanoso terreno étnico - religioso e nacionalista. Não é casual que a perigosa escalada de tensão tenha sido desencadeada precisamente pelo novo governo indiano dirigido pelos fundamentalistas hinduístas do BJP e que integra forças regionais confessadamente fascistas. Como não são nada ingénuas as medidas tomadas pelo governo do Paquistão (a braços com uma seríssima crise económica e social) quando por sua vez avançou para as explosões nucleares: instauração do recolher obrigatório e severas medidas de "austeridade" com o pretexto de que presumivelmente lhe viria a ser cortada a "ajuda económica externa". De notar ainda que tudo isto ocorre precisamente quando em 1997 (com o anterior governo indiano) se tinham verificado progressos internacionalmente reconhecidos , não só nas relações sino-indianas como nas próprias relações indo-paquistanesas, incluindo em torno do complexo problema de Caxemira.

Os nossos camaradas indianos do PCI (Marxista) e do PCI, conjuntamente com as forças que compõem a Frente de Esquerda, condenam firmemente a política do governo reaccionário indiano. Cremos que o mesmo se passa com os camaradas paquistaneses, cuja luta se desenvolve em condições particularmente difíceis, em relação ao governo respectivo. Expressamos-lhes a nossa solidariedade. Simultaneamente é necessário redobrar os esforços para relançar em Portugal a luta pela proibição e liquidação das armas nucleares . Não esquecendo que os EUA, ao recusar um tal objectivo , insistindo na teoria da " dissuasão nuclear " , admitindo mesmo o uso da arma nuclear, recusando abertamente comprometer-se em não aperfeiçoar e em não usar a arma nuclear em primeiro lugar, são o primeiro e principal responsável pelo perigo nuclear. — Albano Nunes


«Avante!» Nº 1279 - 4.Junho.98