Finanças Locais
Por
uma lei que fortaleça o Poder Local
A Assembleia da República aprovou, na generalidade, a
proposta de lei do Governo sobre Finanças Locais. O diploma foi
viabilizado com os votos favoráveis da bancada socialista e com
as abstenções do PSD e do PCP. O Grupo Parlamentar do PP votou
contra. Não deixando de reconhecer alguma melhoria no conteúdo
das propostas do Governo, a bancada comunista manteve uma postura
crítica ao longo do debate, pondo em relevo o que considerou
serem as claras insuficiências da proposta de lei.
A admissão por parte de João Cravinho de que eram justas e fundamentadas algumas das críticas oriundas da bancada do PCP e a abertura por si revelada já no final do debate para em sede de especialidade promover uma aproximação capaz de responder às preocupações levantadas, justificaram, de certa maneira, a abstenção dos parlamentares comunistas.
"O Governo quer um amplo e rápido consenso com todas as forças políticas com representação parlamentar, tendo em vista a aprovação de uma nova Lei das Finanças Locais até 30 de Junho", disse o Ministro do Equipamento, Planeamento e da Administração do Território.
O PSD, apesar de ter contribuído para viabilizar a segunda versão da proposta de Lei de Finanças Locais do Governo, também não poupou críticas, acusando o PS de incumprimento da promessa de duplicar as transferências de dinheiro para as autarquias no período de quatro anos.
O PP, por seu lado, justificou o voto contra com o argumento de que o texto concede "menos autonomia para o Poder Local".
Neste contexto,
parecem assim estar criadas condições para que uma nova Lei das
Finanças Locais seja aprovada, em votação final global, até
ao final do corrente mês, como aliás tem defendido o PCP.
Uma lei que, como salientou Luís Sá, "contribua para
fortalecer o Poder Local", "seja instrumento de
justiça e de desenvolvimento", contribuindo simultaneamente
para a "qualidade de vida e para realizar os direitos das
populações".
Para que esse objectivo seja alcançado, importa, entretanto, que
em debate na especialidade, as insuficiências e os aspectos
negativos da proposta de lei possam ser corrigidos. Para eles
chamou a atenção Luís Sá, lembrando, desde logo, no que se
refere às verbas a transferir, o facto de o novo texto continuar
"longe de caminhar para a recuperação da capacidade
financeira do Poder Local, afectada pelo incumprimento da Lei de
Finanças Locais".
Com efeito, embora a
repartição financeira entre a administração central e local
assente na média aritmética do IRS, IRC e IVA - fórmula que
merece a concordância da bancada comunista - , a verdade é que
a percentagem está longe de garantir a recuperação, como
sublinhou Luís Sá, que reclamou o seu aumento para valores
superiores aos 33,5 por cento propostos.
Esta exigência, em sua opinião, é perfeitamente
"realista", uma vez que, explicou, "não implica a
necessidade de aumento da carga fiscal e, se for essa a
preocupação do Governo, "nem sequer comprometerá os
objectivos de convergência europeia".
O facto de a proposta de lei não garantir o "aprofundamento
do carácter redistributivo do volume de transferências",
constitui outra das críticas formuladas por Luís Sá, que se
manifestou igualmente preocupado com os critérios adoptados para
a "distribuição de verbas entre receitas correntes e
receitas de capital".
"A concretizar-se esta proposta existiriam 154 concelhos
cuja receita diminuiria num montante total de 9,2 milhões de
contos. Existem mesmo concelhos onde essa redução nas
transferências correntes ultrapassaria os 20 por cento. Em
Penafiel é mesmo de 46,5 por cento", alertou Luís Sá,
para quem esta drástica redução, a concretizar-se, "teria
efeitos profundamente desestabilizadores, particularmente em
matéria de trabalhadores das autarquias".
No entender da bancada comunista - e estas são outras tantas preocupações que serão objecto de propostas suas em sede de especialidade - , sempre que o Governo decida conceder benefícios fiscais os municípios devem ser compensados, do mesmo modo que o "regime de crédito deve merecer adequada ponderação, tendo em conta as suas largas incidências na gestão das autarquias".
Defendido pela bancada do PCP, de acordo com Luís Sá, é ainda o princípio de que a retenção de transferências para pagamento de dívidas não ultrapasse os 10 por cento, entendendo, por último, que a regulamentação dos contratos-programa deve assgurar que estes "só existam para o poder central comparticipar em obras do poder local", nunca podendo servir, "por mecanismos de chantagem, para o poder local financiar o poder central".