NATO prepara
intervenção no Kosovo


Com o alegado objectivo de «pôr fim à violência no Kosovo», os ministros europeus da Defesa, membros da NATO, aprovaram a semana passada uma série de medidas que constituem o pronúncio de uma intervenção militar na Jugoslávia que se afigura cada vez mais iminente.

Para além da suspensão dos voos internacionais, na NATO há já consenso para medidas tão inquietantes como a destruição da defesa anti-aérea jugoslava; a criação de uma zona de exclusão no Kosovo para toda a artilharia pesada; vigilância da região pela força aérea; operações de interferência electrónica contra as telecomunicações militares sérvias; envio de homens e materiais (em paraquedas) para o Kosovo; deslocação de tropas terrestres.
Em simultâneo, a NATO decidiu efectuar manobras militares na Albânia, ao longo da fronteira da Jugoslávia, ou seja, ao sul do Kosovo. Previsto para Julho, numa evidente «manifestação de força», está o envio de aviões de combate para a Albânia, antecipando desta forma as manobras inicialmente previstas para finais de Agosto.
Os membros da Nato, que se afirmam tão ciosos da paz no Kosovo, não consideraram necessário fazer qualquer tipo de aviso ou tomar qualquer medida contra o chamado «exército de libertação do Kosovo» e respectivos representantes políticos, cujos membros não só não sofrem nenhuma pressão internacional para se sentarem à mesa com Belgrado, como continuam a dispor de fornecimento bélico e apoio de retaguarda a partir de e na própria Albânia. Nos seus planos, a NATO também não revela qualquer interesse em ouvir o que o Conselho de Segurança da ONU tem a dizer sobre os seus planos de ingerência na Jugoslávia. Resta saber se tal se deve ao facto de recear não encontrar aí o consenso desejado, ou se pura e simplesmente considera tal consulta dispensável.
Na verdade, as reacções às medidas militares anunciadas para o Kosovo foram praticamente nulas. A Rússia, tradicional aliado de Belgrado e em princípio contrária a uma intervenção militar na região, limitou-se a pedir, através de um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que as manobras militares sejam desenvolvidas «de forma a não provocar uma escalada da força na região», e a lembrar que «qualquer outra acção da NATO não deve ser empreendida sem o acordo do Conselho de Segurança da ONU». O resto da comunidade internacional parece preferir lavar as mãos do assunto, enquanto a generalidade da comunicação social vai diabolizando os sérvios e explorando até à exaustão a tecla dos coitadinhos dos kosovares, metendo no mesmo saco populações aterrorizadas e independentistas armados, como se estes últimos fossem vítimas inocentes e não beligerantes com gravíssimas responsabilidades na situação que se vive na região.

E assim vai o mundo assintindo aos preparativos de guerra contra a Jugoslávia, sob a batuta de países como a Inglaterra (que há décadas mantém uma dominação sangrenta no Ulster), da França (sempre pronta a intervir além-fronteiras), da Alemanha (grande responsável da tragédia na Bósnia) ou dos Estados Unidos (com um recorde de instervenções à escala mundial sem paralelo, em apoio de refimes ditatoriais). Em nome da pax ocidental, evidentemente.

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PCP condena
manobras militares

A propósito das manobras militares da Nato na Albânia, o Gabinete de Imprensa do PCP divulgou a seguinte nota:
«As manobras aéreas da NATO junto ao território da Jugoslávia constituem uma violação brutal da soberania daquele país e do direito internacional. São, por isso, gravíssimas as afirmações dos ministros da defesa dos EUA e RFA ao defenderem a intervenção da NATO na Jugoslávia mesmo sem qualquer resolução da ONU. Elas confirmam que a chamada nova ordem mundial assenta nos interesses das grandes potências capitalistas e no desprezo pela soberania dos países e nos interesses dos povos.

É, assim, de condenar que o envolvimento da força aérea portuguesa naquelas manobras, alinhando com os interesses dos EUA e da RFA e outras potências, o que limita a afirmação de Portugal enquanto país soberano e com voz própria na comunidade internacional.»


«Avante!» Nº 1281 - 18.Junho.98