Ásia
Crise
económica
chegou ao Japão
A crise no sudeste asiático já provocou, em termos
globais, entre dez a vinte milhões de desempregados. Agora
chegou a vez do Japão.
O Japão reconheceu
a semana passada ter entrado em recessão e o primeiro-ministro
nipónico, Ryutaro Hashimoto, considera que o país não está em
condições de travar sozinho a desvalorização do yen. Na
segunda-feira, a moeda japonesa continuava a descer, passando a
barreira dos 146 yens por dólar, arrastando na queda as devisas
e as bolsas da região, provocando ao mesmo tempo uma forte
quebra nas praças bolsistas europeias e de Wall Street.
Falando no parlamento nipónico, Ryutaro Hashimoto admitiu que o
Japão venha a pedir ajuda ao estrangeiro: «Uma vez que nós
não podemos alterar o mercado sozinhos, necessitaremos
naturalmente de procurar a cooperação (de outros países)»,
declarou perante a comissão do orçamento da Câmara baixa.
Este ano, o yen perdeu 21 por cento do seu valor, e 46 por cento
em relação ao seu nível mais elevado (79,75 yens por dólar),
alcançado em Abril de 1995. O importante plano de relançamento
(126 mil milhões de dólares) lançado em Abril pelo Governo
continua sem dar resultados visíveis.
A crise japonesa
está a provocar novas ondas de choque nas fragilizadas economias
asiáticas, com graves consequências a nível social.
Em termos globais, a crise no sudeste asiático já provocou
entre dez a vinte milhões de desempregados. Na Tailândia, em
menos de um ano, o desemprego passou de 1,5 por cento para seis
por cento; na Indonésia, estima-se que ultrapasse os 11 por
cento, afectando 16 milhões de pessoas sem nenhuma protecção
social, enquanto 58 milhões de indonésios vivem agora abaixo do
limiar da pobreza, contra os 22,5 milhões nessas condições
antes do início da crise.
O tema esteve
recentemente em debate na conferência internacional sobre a
crise regional, realizada em Bangkok, que reuniu durante dois
dias peritos da ONU, do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD),
do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Na mensagem enviada por Kofi Annan à conferência, o
secretário-geral da ONU adverte: «O marasmo económico na Ásia
está em vias de se estender ao mundo inteiro. Ninguém pode
ainda dizer qual será o impacto definitivo da crise asiática.
Mas sabemos já que ela provocou enormes sofrimentos humanos e
que os pobres foram os mais gravemente afectados».
«É evidente, prossegue a mensagem, que os outros países em
desenvolvimento - geograficamente e mesmo economicamente
distantes dos seus parceiros asiáticos - sofrerão as
repercussões da crise, e mais severamente do que as nações
desenvolvidas».
Também o vice-primeiro ministro tailandês, Supachai Panitch, manifestou a sua inquietação com as eventuais consequências da crise asiática. Atribuindo a responsabilidade principal da crise à excessiva mobilidade de capitais devido à mundialização e à falta de instituições e sistemas financeiros perante um tal fenómeno, Supachai Panitch chegou a uma brilhante conclusão: «Nestes tempos de mundialização, não se pode abandonar totalmente às forças do mercado os movimentos do dinheiro e de capitais, tal como os fluxos privados, sem correr riscos consideráveis».