Argentina
Videla volta à prisão



O general Videla, antigo chefe da Junta Militar no poder na Argentina entre 1976 e 1983, foi preso no início da semana passada, em Buenos Aires, sob a acusação de envolvimento no roubo de crianças e adopções ilegais durante a «guerra suja».

A prisão do antigo ditador constitui uma vitória do movimento das «Loucas da Praça de Maio», as mães e avós que desde 1977 se manifestam em volta daquela praça, no centro da capital argentina, exigindo o total esclarecimento sobre o desaparecimento das crianças presas pelos militares. Segundo as organizações de direitos humanos, o número de desaparecidos durante a ditadura chegou aos 30.000, continuando ainda hoje sem se saber o destino de grande parte deles.
Só a persistência do movimento - que elaborou uma lista de 28 militares, em que constam todos os chefes da Junta, acusando-os do roubo de crianças - permitiu o prosseguimento das investigações e, mais importante ainda, que este tipo de crime fosse declarado imprescritível, o que é caso único na Argentina. É este facto, de resto, que possibilita a prisão de Videla.

Condenado a prisão perpétua após a queda da ditadura, por violação dos direitos humanos, Jorge Rafael Videla não cumpriu mais do que seis anos de prisão: em 1990 é posto em liberdade graças a uma amnistia concedida pelo Presidente Carlos Menem. Confrontado com a nova prisão de Videla, acusado de envolvimento em cinco casos de desaparecimento de crianças nascidas quando as mães se encontravam presas, entre 1976 e 1981, Menem limitou-se a afirmar que o ocorrido prova que «as instituições argentinas funcionam bem».
O que o Presidente argentino não disse é que só em Março último, por pressão das forças de esquerda, o Parlamento anulou as famigeradas leis do «ponto final» e do «dever de obediência», adoptadas em 1986/87, e que objectivamente visaram amnistiar os militares. Apesar de a decisão não ter efeitos retroactivos, os que persistem na luta para que os responsáveis pela «guerra suja» respondam pelos crimes cometidos estão hoje mais confiantes de que a impunidade tem os dias contados na Argentina.


«Avante!» Nº 1281 - 18.Junho.98