Cimeira de Cardiff
Esqueceram-se do emprego



O primeiro-ministro britânico e ainda presidente em exercício do Conselho, Tony Blair, comparece hoje perante o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, para prestar contas da cimeira de chefes de Estado e de Governo da UE realizad em Cardiff nos primeiros dias desta semana.

Blair deverá resumir aos eurodeputados os temas que dominaram a discussão em Cardiff e que constituiram as suas principais decisões: a comunicação por parte de alguns países da UE que consideram que as contribuições para o orçamento comunitário deviam ser distribuídas de forma mais equitativa; a decisão de concluir em Março de 1999 a discussão sobre as perspectivas financeiras da UE, a chamada Agenda 2000; a realização de uma cimeira informal em Outubro para aprofundar as discussões sobre o futuro da Europa, ou seja, a realização das reformas institucionais consideradas necessárias ao alargamento a Leste e, como não podia deixar de ser, apelou aos Estados-membros e ao sector privado para que realizem os passos necessários por forma a assegurar que a introdução do euro em Janeiro de 1999 seja bem sucedida. Recuada, mas apesar de tudo significativa foi a decisão de apelar à libertação dos prisioneiros políticos de Timor-Leste detidos pelas autoridades indonésias.
Após escutarem, os deputados dirão de sua justiça e, no final, aprovarão uma resolução com a opinião do PE sobre o conteúdo da cimeira.
Temas por demais conhecidos e badalados ao longo da semana, acompanhados da ideia de que foi uma cimeira sem especial conteúdo, havendo mesmo quem lhe chamsse uma cimeira "de transição".

Talvez até tenha sido uma cimeira algo "vazia". Mas podia ter sido diferente. O que foi menos badalado foi que, em Novembro de 1997, numa cimeira extraordinária dedicada exclusivamente ao problema do emprego, ficou decidido que cada Estado-membro deveria elaborar Planos Nacionais de Emprego para serem aplicados a partir de 1999, mas que seriam submetidos a uma primeira análise e avaliação em Junho de 1998. Em cardiff. Na cimeira que agora terminou e que ao tema não dedicou iuma palvra. A não ser que a discussão passava para o próximlo semestre.

Para evitar esquecimentos, o Grupo da Esquerda Unitária Europeia (GUE/NGL), de que fazem parte os deputados do PCP, apresentou uma proposta de resolução cujo primeiro ponto é precisamente "Economia e Emprego" e onde se começa por "lamentar que o Conselho Europeu não tenha efectuado uma análise aprofundada dos planos nacionais de emprego e tenha remetido as suas decisões sobre as orientações para o emprego em 1999 para o Conselho Europeu de Viena", que se realiza no final deste ano. O que, para quem se propõem a resolver o flagelo do desemprego na Europa (18 milhões de desempregados) a partir de 1999 é manifestamente curto.
Estas opções não surpreendem, anes confirmam a hierarquia de prioridades que actualmente orienta a acção dos "construtores" da União Europeia.
A decisão de dar prioridade à luta contra o desemprego adoptada em Novembro passado surgiu num contexto em que um pouco por toda a UE se multiplicavam as acções de protesto que culminaram com os importantes movimentos de desempregados registados em França e na realização de manifestações gigantes que acompanharam as últimas cimeiras europeias. A deisão adoptada na altura visou acima de tudo acalmar os ânimos mediante a elaboração dos referidos planos nacionais de emprego para os quais não foram destacadas nenhumas verbas nem estabelecidos objectivos concretos a atingir. Ao contrário, por exemplo, da metodologia rigorosa adoptada para a concretização da União Económica e Monetária.
Entretanto, o principal está feito com o pontapé de saída dado para a introdução da moeda única em Janeiro do próximo ano.


«Avante!» Nº 1281 - 18.Junho.98