OPV na Bolsa, contestação na rua
Privatizar
a EDP
é um grave erro político
Enquanto o Governo exibe a sua satisfação por ter arrecadado mais uns 500 milhões de contos para as contas da convergência nominal, os sindicatos denunciam a redução do emprego, o ataque aos direitos e a degradação da qualidade do serviço.
Manhã cedo, na Bolsa de Lisboa, teve lugar anteontem a sessão especial que culminou a segunda oferta pública de venda da EDP. Depois do greenshoe (mais 1,55 por cento) e da venda directa ao parceiro estratégico (2,25 por cento), o Estado deverá ficar com 50 por cento e mais 100 acções.
A 4300 escudos por acção (preço para o público em geral, que é quase 2 por cento inferior à cotação registada no final de sexta-feira), as contas públicas obtiveram uma receita de 445 milhões de contos, a que se somam 58 milhões da venda directa ao parceiro espanhol, a Iberdrola. Aos jornalistas o ministro Sousa Franco disse que, com os 635 milhões de contos de privatizações deste ano (contando a Cimpor), Portugal ocupará um lugar entre os cinco ou seis países da UE com menor nível de dívida pública - critério-pilar da moeda única.
Outras
preocupações foram apresentadas pela FSTIEP/CGTP, que na
terça-feira levou algumas dezenas de dirigentes sindicais ao
largo fronteiro à Bolsa, para protestar contra mais este passo
na privatização. Ali - tal como haviam feito quinta-feira na baixa
lisboeta, em tribuna pública - os representantes dos
trabalhadores apontaram as consequências que se fizeram sentir
na EDP desde a primeira OPV, há um ano: as decisões passaram a
ser tomadas tendo em vista aumentar os lucros (em vez de
procurar, primeiro, assegurar um serviço público de qualidade),
houve redução de emprego e aumento dos ritmos de trabalho, o
ataque a direitos elementares dos trabalhadores põe em causa
condições de segurança, e piorou a qualidade do serviço
(encerraram locais de atendimento, diminuiram os piquetes e
demora mais a reparação de avarias, generaliza-se a cobrança
por estimativa).
A privatização é considerada «um grave erro político do
Governo», pois o sector eléctrico «tem um interesse
estratégico para Portugal, não podendo ficar dependente de
interesses privados nem de capitais estrangeiros». Na
resolução aprovada na tribuna pública de dia 25 salienta-se
que a EDP representa «um grande património público de
criação de riqueza» e volta-se a defender «uma redução de
tarifa que o Governo nunca concretizou».
Quanto ao «encaixe» financeiro, recorda-se que a EDP «nos últimos 4 anos deu cerca de 300 milhões de contos de lucros líquidos e pagou ao Estado mais de 150 milhões de contos de IRC».