Listas de espera nos hospitais
Solução
está no reforço do SNS
As listas de espera para atendimento nos serviços de saúde foram objecto de debate no Parlamento. O PSD, que suscitou a questão submetendo à Câmara um projecto de lei visando eliminar à sua maneira aquele drama, acabou por ver a sua proposta derrotada pelos votos contra da bancada socialista. Embora reconhecendo que se trata provavelmente do "mais grave problema de acesso à saúde no nosso País", para o qual urge uma resposta urgente, o Grupo comunista, pelo seu lado, não pôde deixar de discordar da solução preconizada pelo PSD, por significar claramente uma ainda maior fragilização do Serviço Nacional de Saúde.
Esta terá sido,
aliás, uma razão de peso para a abstenção da formação
comunista, que acusou o PSD de "demagogia populista"
pela forma como rodeou a apresentação da sua proposta. Enquanto
o PCP desde há muito defende um "plano de emergência"
para esta matéria, face ao que entende ser a gravidade da
situação, o PSD, com efeito, como salientou no debate
Bernardino Soares, apresenta uma proposta que não só "não
está preparada para uma boa gestão dos dinheiros
públicos", como aponta "para uma privatização
indirecta dando prioridade à contratualização com o
privado".
"O que o PSD faz é abrir novamente a porta, como sempre fez
durante 16 anos em que deteve a pasta da Saúde, às soluções
privadas, nem sequer com carácter de complementaridade e já
como primeira solução", fez notar o deputado comunista.
Ora é precisamente neste ponto que reside a "grande
diferença" entre o PCP e o PSD, não apenas quanto à
avaliação do problema e suas principais causas, como ainda
quanto às propostas e medidas a adoptar.
É que na génese do problema, foi ainda Bernardino Soares a
lembrá-lo, está o "crónico sub-financiamento do Serviço
Nacional de Saúde", sempre praticado pelo PSD e agora
igualmante assumido pelo Governo socialista. Esta insuficiência
de recursos financeiros, enfatizou, "paga-se caro", o
mesmo é dizer, "paga-se com a saúde dos portugueses",
sobre quem recai a "falta ou a degradação de instalações
e de equipamentos".
E se esta é uma causa directa para a existência de listas de
espera, insuportável realidade que marca quotidianamente a vida
de muitos portugueses, a elas não é igualmente alheio aquilo
que o deputado do PCP chamou de "promiscuidade entre a
prestação pública e a privada de cuidados de saúde através
de convenções".
"Há muitos anos submetida a interesses instalados",
foi esta política, acusou, que permitiu e até incentivou a
baixa de produtividade do SNS, fazendo de contas que os serviços
públicos tinham as suas capacidades esgotadas", assim
desviando para os privados importantes recursos.
Ora é exactamente essa orientação que está subjacente ao
diploma subscrito pelo PSD. E de tal maneira ela é clara que
acaba por evidenciar o que Bernardino Soares considerou ser a
grande contradição presente na proposta do PSD, a qual é a de
admitir que a resolução das lista de espera passa pelo
agravamento de uma das suas causas, ou seja, a transferência de
fundos para o sector privado.
Separando as águas, Bernardino Soares lembrou, pois, que "o
verdadeiro e eficaz combate às listas de espera só se fará com
a valorização e a defesa do SNS e com o aproveitamento pleno e
prioritário da capacidade instalada", como defende o PCP, e
nunca "torpedeando o SNS e os seus recursos, nem insituindo
comissões de avaliação que retiram do controlo dos serviços
públicos a gestão dos seus próprios recursos", como
deseja o PSD.