Concurso para a Rocha
é negócio para o Mello


A Comissão de Trabalhadores da Lisnave foi surpreendida com o aparecimento de um anúncio de concurso público da Administração do Porto de Lisboa para concessão da exploração do estaleiro da Rocha do Conde de Óbidos a partir de 1 de Janeiro de 1999.

A surpresa, como se afirma na nota de imprensa distribuída segunda-feira pela CT, é agravada por, ainda no dia 13 - quando visitaram as instalações da Lisnave na Mitrena - o primeiro-ministro, o ministro da Economia e o secretário de Estado adjunto terem referido aos representantes dos trabalhadores que o futuro do estaleiro de Lisboa continuava em estudo e deveria ser encarado sem alarmismos. Mas a resposta de Guterres confirmou os motivos de preocupação dos trabalhadores, pois «levantou a ponta do véu» em relação ao triângulo estratégico que interessa ao grupo de José de Mello e que, além da Lisnave, incluirá o Arsenal do Alfeite e os Estaleiros Navais de Viana do Castelo - unidades que o Governo admite querer privatizar.

No início de Junho, a CT expressou a Vítor Ramalho a sua preocupação pelo «manifesto desinteresse» da administração da Lisnave relativamente à Rocha, face às divergências existentes com a APL. O secretário de Estado afirmou desconhecer o problema, agradeceu a informação e até disse que iria apurar mais elementos.

Agora, anunciado o concurso público, a CT voltou a dirigir-se a Vítor Ramalho, pedindo-lhe que explique «como é possível esta situação, depois de um processo de reestruturação em que o estaleiro da Rocha nunca esteve em causa e em que foram aplicados importantes recursos financeiros provenientes de dinheiros públicos». «Fica-nos cada vez mais a sensação de que existem negócios para servir interesses que não são os dos trabalhadores», afirma a CT em comunicado.


«Avante!» Nº 1286 - 23.Julho.1998