Coreia do Sul
Trabalhadores em greve
e sindicalistas perseguidos


As autoridades sul-coreanas emitiram mandatos de captura contra os dirigentes sindicais que despoletaram as greves da semana passada, que durante três dias mergulharam o país num gigantesco protesto contra os despedimentos em massa.

A polícia emitiu 55 mandatos de captura contra os dirigentes sindicais do movimento grevista, cujo objectivo é denunciar as medidas governamentais para fazer face à crise económica sul-coreana. Segundo os representantes dos trabalhadores, as medidas sacrificam apenas os operários, quando existe um acordo no sentido de repartir as medidas de austeridade.
Os dirigentes sindicais refugiaram-se na catedral de Myongdong, bairro comercial do centro de Seul e local tradicional de manifestações contra o governo. A catedral foi cercada por milhares de polícias anti-motim.

As greves começaram nas empresas do sector automóvel Hyundai e Daewoo Motors, e nos estaleiros navais da Daewoo Heavy Industries, estendendo-se depois às empresas públicas, para denunciar um programa de reestruturação prevendo despedimentos em massa, aprovado pelo FMI em troca de uma ajuda de 57 mil milhões de dólares.

A Confederação dos Sindicatos Coreanos, KCTU, denunciou entretanto a recusa do governo em encetar discussões com os representantes dos trabalhadores das empresas públicas ou privadas cuja reestruturação é exigida pelo FMI, apesar de ter prometido que o Conselho tripartido (formado pelas autoridades, sindicatos e patronato) seria um verdadeiro fórum para a discussão dos problemas da reforma económica. A verdade é que o governo sul-coreano avançou com as reestruturações - entre as quais se conta a decisão de vender a Korea Telecom e o encerramento de cinco bancos, lançando no desemprego 10.000 trabalhadores -, sem consultar os sindicatos envolvidos.
Os sindicatos, favoráveis ao desmantelamento dos grandes conglomerados no âmbito de uma reforma económica que permita um melhor aproveitamento dos recursos financeiros e uma maior transparência das activiades económicas, exigem o respeito pelos direitos sociais e sindicais e a manutenção dos postos de trabalho, bem como a aprovação de leis sociais de protecção aos desempregados e a implementação de programas nacionais de formação para trabalhadores.

Bem diferente é a receita do FMI, que exige em troca da sua 'ajuda' a liquidação de mais de cinquenta grupos industriais e o total desmantelamento da legislação respeitante ao direito ao trabalho, impondo ao mesmo tempo um plano de austeridade orçamental com cortes drásticos nas despesas sociais.


«Avante!» Nº 1286 - 23.Julho.1998