Nigéria
Promessa
de eleições para 1999
Duas semanas após o desaparecimento do líder da oposição Moshood Abiola e da contestação popular da versão oficial da sua morte, o presidente da Nigéria anunciou na segunda-feira a realização de eleições presidenciais livres no próximo ano, no quadro de um conjunto de iniciativas destinadas à democratização do país.
Tendo subido ao
poder há seis semanas, depois da morte do ditador Sani Abacha -
que liderou um golpe de Estado em 1993 -, o general Abdulsalam
Abubakar declarou que o escrutínio terá lugar no primeiro
trimestre de 1999 e que o novo presidente prestará juramento a
29 de Maio.
«Os nigerianos querem nada menos do que a democracia verdadeira
num país em paz e unido», afirmou.
Considerando nulos os resultados de todas as eleições
realizadas sob a o regime de Abacha, Abubakar dissolveu a actual
comissão eleitoral (considerada um orgão manipulado pelo
Estado) e anunciou a criação de outra comissão «munida de uma
nova legislação e dos fundos necessários para eleições
eficazes, independentes e livres».
Os funcionários
locais e regionais eleitos depois de 1993 serão demitidos e
todas as acusações contra presos políticos serão retiradas.
Abubakar acrescentou ainda que o sistema judicial se tornará
independente.
Em relação ao Governo que irá substituir o executivo que
demitiu no passado dia 8, o actual presidente não referiu nomes
nem datas, prometendo apenas que os seus membros representarão
toda a sociedade.
A possibilidade de
formação de um Governo de unidade nacional foi posta de lado.
Nas palavras de Abubakar, o regime não «substituirá uma
instituição não democrática por outra». «Esta
administração não tem desejo algum de se suceder a si mesma e
está firmemente empenhada em passar o poder a um governo
democraticamente eleito», afirmou, citado pela agência Lusa.
Acrescente-se que a Nigéria sofreu dez golpes de Estado desde
1960 e viveu 27 anos sob regime militar.
Reacções
O Comité de Acção Unida da Nigéria, um grupo de oposição com base no sul do país, condenou a decisão de Abubakar de se manter no poder até Maio do próximo ano e defendeu que o presidente não disse nada de novo relativamente aos seus antecessores militares, reafirmando o seu compromisso de continuar a lutar contra o país.
Por seu lado, a Alta
Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos diz
esperar que as promessas do presidente «se tornem realidades
rapidamente», nomeadamente no que diz respeito à libertação
dos presos políticos e ao respeito pelos direitos humanos.
Mary Robinson considerou que os últimos episódios da história
da Nigéria permitem romper com o passado e iniciar uma nova era
com base na formação de um executivo civil e democrático.
Para a representante da ONU, as autoridades nigerianas têm agora
a oportunidade de impulsionar um processo de transição baseado
numa ampla consulta e no pleno respeito pelos direitos e
liberdades fundamentais.
O secretário-geral da Commonwealth - de que a Nigéria faz parte - saudou o anúncio do presidente nigeriano e afirmou tratar-se de «uma nova prova do compromisso de Abubakar com a reconciliação nacional e com um processo credível para a democracia».
O departamento de Estado dos EUA declararou que «à primeira vista, é um passo positivo para uma credível transição para a democracia que a comunidade internacional vem reclamando».
Entretanto, o ministro da Cooperação francês, Charles Josselin, depois de um encontro com Abubakar, afirmou que o seu país se empenhará no levantamento progressivo das sanções contra a Nigéria. «Cada país faz a democracia ao seu ritmo próprio», sustentou.
As sanções foram decretadas em 1993 pela União Europeia e pelos Estados Unidos após a anulação das eleições, tendo sido agravadas dois anos depois.