Alentejo sofre um dos piores anos agrícolas do século
Urge plano de emergência


Os deputados comunistas Lino de Carvalho e Rodeia Machado, eleitos, respectivamente, pelos círculos de Évora e Beja, criticaram a "despreocupação do Ministro da Agricultura" pela situação de catástrofe agrícola que atinge o Alentejo, considerando que a mesma revela não apenas a sua "extrema insensibilidade em relação à agricultura", como configura uma "tentativa de desvalorização dos prejuízos".

Em conferência de imprensa realizada segunda-feira, na sequência de várias visitas e encontros na região, condenaram ainda o que dizem ser a "falta de instrumentos financeiros para acudir à situação" (nem o seguro agrícola nem o fundo de calamidade funcionam) e exigiram a adopção de um plano de emergência para fazer face à perda de receitas resultantes do mau ano agrícola, prejuízos que no Alentejo rondam já os 30 milhões de contos.

Num primeiro balanço da agricultura alentejana, os deputados confirmaram que se está perante uma "situação dramática ao nível dos cereais, da vinha e do olival". O período anormal das chuvas na época das sementeiras, a seca no princípio do ano e, mais tarde, as trovoadas, o granizo e ventos fortes", explicaram, foram determinantes para o quadro actual onde avultam "enormes prejuízos e perdas de produção".

A escassa produção cerealífera, cuja área semeada não ultrapassou os 30 por cento, confirma, segundo Lino de Carvalho, "um dos piores anos agrícolas deste século". Destes 30 por cento semeados, Lino de Carvalho estima que a produtividade será menos de metade do que é habitual. Quanto ao olival, de acordo com as informações obtidas,os deputados comunistas contabilizaram uma perda de produção que ronda os 50 por cento, sem contar com a qualidade da azeitona e do azeite dela extraído. Também na vinha os danos são estimados em 50 por cento.

Defendida pelos deputados do PCP é, entretanto, face à ineficácia dos instrumentos financeiros capazes de minorar os efeitos dos prejuízos, a adopção imediata de um conjunto de medidas por parte do Governo, a primeira das quais, frisam, deve passar pela levantamento objectivo dos prejuízos registados.

"A reformulação do seguro, o reforço das verbas do fundo de calamidade e, através do Orçamento do Estado, o accionamento de mecanismos de calamidade que cubram a perda de rendimento, entre os quais deve ser tida em conta uma linha de desendividamento que permita adiar o pagamento dos investimentos feitos e das dívidas contraídas à banca, constituem outras tantas medidas defendidas por Lino de Carvalho, que reclamou do Governo "uma reflexão profunda sobre a agricultura alentejana para solucionar questões de fundo que preocupam os homens da terra".


«Avante!» Nº 1287 - 30.Julho.1998