O mar
é património comum
"Os Verdes" lembram, em Sintra, que «o mar é património comum e é responsabilidade comum preservá-lo». Um objectivo a que se impõe dar-lhe conteúdo na prática política.
A necessidade de
«compromissos precisos, definidos no tempo, que responsabilizem
cada Estado participante por tomar medidas preventivas, de
protecção eficaz dos ecossistemas e de preservação da
diversidade biológica do meio marinho», foi defendida pelo
Partido Ecologista "Os Verdes", em conferência de
imprensa realizada enquanto decorria em Sintra a Convenção para
a Protecção do Meio Marinho do Nordeste Atlântico (OSPAR).
O documento do Partido Ecologista começa por sublinhar a
importância da decisão da ONU de declarar 1998 como Ano
Internacional dos Oceanos. Uma decisão que «finalmente se faz
eco dos apelos que os partidos verdes e ecologistas há
muito vinham lançando» e que radica na crescente consciência
«da importância que os oceanos assumem como fonte geradora de
vida e património comum da Humanidade».
Neste quadro, "Os Verdes" entendem que Portugal tem
«responsabilidades próprias e acrescidas», e apresentam um
amplo conjunto de exigências, reclamando, antes do mais, a desnuclearização
dos mares portugueses.
"Os Verdes" exigem assim, ao governo português - o fim da imersão de material bélico no mar; a definição de normas para circulação de navios que transportem substâncias tóxicas; a discussão pública e definição de um plano de redução, substituição e/ou eliminação de substâncias tóxicas utilizadas nos processos produtivos; prioridade para aquisição dos meios que permitam uma eficaz fiscalização na ZEE (zona económica exclusiva) e nos nossos portos; urgência máxima na aquisição de um navio de combate à poluição; controle rigoroso dos produtos químicos e pesticidas utilizados na agricultura; fiscalização eficaz e responsabilização das indústrias poluentes; informação aos pescadores e melhor fiscalização das práticas piscatórias; normas de segurança que permitam a redução de acidentes em navegação; uma política integrada de ordenamento da costa e gestão do mar.
A concluir, o Partido Ecologista lembra que é por iniciativa de Portugal que este é o ano que tem como objectivo «consciencializar para a importância dos oceanos para o futuro da Humanidade», cabendo agora ao governo português «assumir a importância desse objectivo e dar-lhe conteúdo na prática política».
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Declaração de Sintra
A
reunião, em Sintra, de ministros da Convenção para a
Protecção do Meio Marinho do Nordeste Atlântico (OSPAR),
terminou com a assinatura de uma Declaração que surge como mais
um passo para a despoluição dos mares.
O apoio à protecção da diversidade marinha, o controlo das
substâncias químicas e eliminação das radioactivas líquidas
até 2020 e as excepções admitidas à obrigatoriedade de
desmantelamento das plataformas no mar, foram os principais
pontos da Declaração de Sintra.
O encontro chegou a um consenso relativamente ao número de
plataformas petrolíferas que será possível deixar no oceano
após o fim da exploração, estabelecendo em 40 o número
máximo permitido. Só as bases das estruturas que pesam mais de
dez mil toneladas poderão permanecer no mar após a
desactivação. O resto das plataformas será desmantelado em
terra para reutilização ou reciclagem. O processo terá de ser
iniciado até 9 de Fevereiro de 1999.
A questão das emissões de efluentes radioactivos líquidos
ocupou grande parte dos trabalhos, tendo ficado decidida uma
redução das emissões até ao nível zero até ao ano 2020.
O anexo à Convenção agora assinada é dedicado à protecção
dos ecossistemas e diversidade marinha, que pode ser afectada em
resultado das actividades humanas e, ao mesmo tempo, implica
medidas para acudir às áreas marinhas prejudicadas.
Elaborar uma lista sobre as actividades humanas que possam ter
impacto no meio, eleger as actividades prioritárias sobre as
quais devem ser desenvolvidos programas e identificar as
espécies, habitats e ecossistemas marinhos que necessitam de ser
protegidos, conservados ou restaurados, são alguns dos
itens constantes do novo anexo.
O controle das descargas, emissões e perdas de substâncias
perigosas, com a sua substituição por outras menos agressivas
para o ambiente tendo como meta a eliminação até ao ano
2020-, foi outra das conclusões da reunião.
A Declaração de Sintra reserva ainda uma parte para a
cooperação internacional, reafirmando a necessidade de
intensificar as relações com outras organizações, no sentido
de reduzir as consequências ambientais de certos rios e outros
oceanos no Atlântico Nordeste.
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Conservação
da Natureza
Sem
dia ou hora marcada
Em véspera do dia
Nacional da Conservação da Natureza, "Os Verdes"
sublinham, em comunicado de imprensa, a necessidade de não se
ficar pelos dias e anos especiais. Um assinalar de datas
especiais que não leva a que «à conservação da natureza,
como às restantes questões ambientais, seja dada a merecida
importância pelo governo».
A questão que se coloca à partida, afirma-se no documento do
Partido Ecologista, é que «em Portugal prevalece ainda uma
visão redutora da Conservação da Natureza, restringindo-se a
sua acção quase exclusivamente às áreas protegidas e, mesmo
estas, debatendo-se, como todos sabemos, com inúmeras
dificuldades para ultrapassar as ameaças que sobra elas
pairam".
A Conservação da Natureza deveria entretanto estender-se a
outros domínios tão importantes como a agricultura, a
indústria extractiva, a política de pescas, portos e
transportes, o Plano Rodoviário Nacional e o ordenamento urbano,
a densificação do litoral e a desertificação do interior, a
limpeza e desobstrução das linhas de água e a revalorização
das frentes ribeirinhas dos pólos urbanos.
"Os Verdes" lembram que grande número de áreas
protegidas portuguesas continuam sem planos de ordenamento. Em 23
são 16 as áreas protegidas (excluindo os monumentos naturais)
que «continuam a não dispor do instrumento fundamental para
correcta gestão dos recursos que se visa preservar através da
classificação».
É o caso dos Parques Naturais de Montesinho, do Alvão, de S.
Mamede, da Arrábida e do Guadiana, e das Reservas Naturais da
Serra da Malcata, da Berlenga, dos Estuários do Tejo e do Sado.
Estas duas últimas alvo de uma enorme pressão em termos urbanos
e industriais.
O documento dos ecologistas considera particularmente grave a
ausência de uma Estratégia Nacional da Conservação da
Natureza, entretanto prevista na Lei de Bases do Ambiente desde
1987, e refere, como relevante, o processo de Avaliação de
Impacte Ambiental, de que a actual lei «não cumpre os
objectivos de prevenção da prática de atentados contra a
natureza e as pessoas, e de escolha do local mais indicado para a
realização de determinado projecto».
"Os Verdes" colocam ainda uma questão particularmente
importante o facto de a conservação da natureza andar
aliada, no nosso país, a um relativo desfavorecimento, em termos
económicos, das áreas protegidas. Uma lógica que
alertam "Os Verdes" tem de ser invertida, «sob
pena de as populações se virarem contra a preservação, quando
o que se pretende é exactamente a consciencialização de todos
para as questões ambientais».