Guiné
Diplomacia cala armas


As negociações entre representantes das autoridades guineenses e da Junta Militar, mediadas pelo «grupo de contacto» constituído pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), saldaram-se por um acordo de tréguas em vigor desde segunda-feira. As armas calaram-se, temporariamente, e a Guiné vive os primeiros dias de calma desde o início dos confrontos, há quase dois meses.

O memorando de entendimento entre delegações das partes em conflito foi assinado domingo na fragata «Corte Real» da Armada Portuguesa, estacionada ao largo de Bissau. Para o secretário executivo da CPLP, Marcolino Moco, esta primeira vitória diplomática do grupo de contacto, presidido pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, José Luís de Jesus, constitui uma «prova de bom senso» e representa um «primeiro passo para o regresso da normalidade institucional e da paz na Guiné-Bissau».
O memorando, que abre caminho para as negociações para pôr fim à guerra na Guiné, foi rubricado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros interino João Cardoso, em representação do Governo guineense, e pelo tenente-coronel Emílio Costa, pela Junta Militar.
Nos termos do documento, as negociações de paz propriamente ditas devem começar num prazo de oito dias a contar da assinatura do memorando, a bordo da fragata «Corte Real» e em águas guineenses, esperando-se que permitam encontrar uma via de diálogo e o regresso à normalidade, o mais depressa possível.
A grande incógnita deste processo reside na aceitação do cessar-fogo pelo exército senegalês. Embora até ao encerramento da nossa edição não se tenham registado incidentes, muitos observadores consideram estar longe de ser pacífica a retirada incondicional do Senegal, sobretudo tendo em conta as alegadas ligações entre os revoltosos guineenses e os rebeldes de Casamansa.
Dúvidas que não se justificam, segundo João Cardoso, que em notícias veiculadas pela Lusa rejeitou a individualização daquela força militar.
«Não percebo por que individualizar este ou aquele exército. Há um conjunto de tropas aliadas que está a trabalhar connosco no sentido de restabelecer a paz», garantiu, adiantando que «as ordens das autoridades têm sido cumpridas» e que «as instituições eleitas têm funcionado».
Já no respeitante à deposição das armas pelos militares revoltosos, Zamora Induta, representante da Junta Militar, informou que esta dependerá do evoluir das negociações.
Quanto ao futuro dos militares da Junta, Zamora afirmou que o seu desejo é voltar aos quartéis. «Não pretendemos poder nenhum, não pretendemos assaltar o poder», disse, reafirmando que a revolta visou «pura e simplesmente» a «reposição da justiça para que haja uma democracia plena e paz verdadeira sem ser por via das armas».

O grupo de contacto da CPLP prossegue entretanto as diligências para avançar no processo de paz. Para amanhã está agendada uma reunião técnico-militar na ilha do Sal, em Cabo Verde, onde será analisada a composição da força a enviar para a Guiné, até ao fim da primeira semana de Agosto, com a missão de observar o cumprimento da trégua pelas partes em confronto. Esta força de observação, decidida no memorando de entendimento, integrará um grupo de observadores militares dos países lusófonos, no máximo de três por país.


«Avante!» Nº 1287 - 30.Julho.1998