TRABALHADORES
Luta(s)


Desenvolvem-se importantes lutas da classe operária e de outros trabalhadores em vários países, de todos os continentes. Porque a cortina de silêncio é grande, na tentativa de iludir as contradições do grande capital e minimizar a capacidade dos trabalhadores em enfrentar a sua poderosa ofensiva, trazemos aqui algumas notas sobre essas lutas.
Nos EUA, vai na 7ª semana a greve em 2 fábricas de peças da General Motors. Este tentacular grupo económico – o maior do mundo em volume de negócios – com fábricas de automóveis em 51 países, viu assim paralisar 26 das 29 fábricas que detém nos EUA, Canadá e México. Em causa está o anunciado despedimento de 50 mil trabalhadores. À estratégia de "racionalidade" da administração GM, opõem os trabalhadores a sinistralidade das condições de trabalho, a desorganização das linhas de montagem e reclamam contra a deslocalização de capitais e tecnologia para países de mão de obra barata, altamente explorada. Os vultuosos lucros de 6,7 mil milhões de dólares da GM em 1997 (mais 34% que em 96) correspondem a despedimentos nos EUA e à entrada em funcionamento de 4 fábricas na Polónia, Argentina, Tailândia, China e a 3 no Brasil. O caracter transnacional da produção industrial, nos dias de hoje, mais não visa que obter chorudos proveitos em curtos prazos.
Esta greve – a mais longa desde 1970 no sector automóvel dos EUA – alargou-se na última semana a mais uma fábrica e ganhou o apoio e expressiva solidariedade da população. Só então, a administração GM age judicialmente, reclamando o caracter ilegal da greve. Ao mesmo tempo que Clinton procura uma mediação.
Este conflito, tal como há um ano, a greve vitoriosa na multinacional de transporte de encomendas ou a recente manifestação de 40 mil operários da construção civil, em Nova Iorque, revela importantes e positivas alterações no movimento operário e sindical dos EUA.

Na Coreia do Sul as greves sucedem-se desde Abril. No último mês e meio, cem mil trabalhadores da Hyundai e doutras marcas automóveis, a que se juntaram os estaleiros navais, metalúrgicos, telecomunicações, transportes desenvolveram um amplo movimento grevista. É a resposta aos despedimentos massivos. Todos os dias 10 mil trabalhadores perdem o seu emprego. Foi a "receita" do FMI pela sua "ajuda" de 55 mil milhões de dólares, após a crise asiática de finais de 97. O regime sul coreano está hoje, ainda mais, nas mãos das transnacionais e das instituições financeiras internacionais. Submetendo-se à sua estratégia, o novo governo procura quebrar a unidade da combativa classe operária da Coreia do Sul. Prende dezenas de dirigentes sindicais. Mas as últimas notícias dão-nos conta de progressos favoráveis aos trabalhadores nas negociações sindicatos /governo.
Praticamente ignoradas têm sido as greves gerais realizadas este ano, nomeadamente na Grécia (várias), na Bolívia, Dinamarca, Zimbabwe, e mais recentemente em Porto Rico, onde os trabalhadores paralisaram toda a actividade a 7 e 8 de Julho, apoiando a greve de 3 semanas dos 6.400 trabalhadores dos telefones.
Alcançando resultados diversos, fortemente reprimida a da Bolívia, ou bloqueada pela requisição civil na Dinamarca, estas greves apontavam objectivos imediatos distintos. Mas tinham conteúdos comuns na sua oposição a novas formas de exploração e opressão.

Queremos ainda recordar pelo seu particular significado as greves do início do ano na Alemanha (F.P. e mineiros) e a luta pelas 35 horas em Itália, Espanha e outros países europeus. Assinalamos ainda o grande êxito da greve dos estivadores da Austrália, em Abril/Maio, e acompanhámos grandes lutas na Argélia, Bangladesh, Bulgária, Canadá, Colômbia, Costa do Marfim, Croácia, Nepal, Rússia.
A luta dos trabalhadores é muito desigual, por vezes, com poucos resultados. Mas persiste e expande-se. Como corolário da ofensiva "global" do capitalismo e da sua incapacidade de resolver os grandes problemas da actualidade. A luta de classes é, pois, uma realidade. E agudiza-se, mesmo nos principais centros capitalistas. Por isso se procura desacreditar e minar os sindicatos. E, no nosso país, ministros do PS tomam posições assustadoras contra o direito à greve. — Manuela Bernardino


«Avante!» Nº 1287 - 30.Julho.1998