Corrupção na Expo'98
João Amaral faz 10 perguntas ao Governo


O deputado comunista João Amaral enviou, através do presidente da Comissão Parlamentar de Acompanhamento da Expo'98, um carta ao ministro António Costa onde solicita o esclarecimento de dez questões relacionadas com a Exposição, designadamente as suscitadas pela descoberta do desfalque.

João Amaral pretende que o ministro, que hoje participa numa reunião da referida comissão parlamentar, esclareça se a administração da Expo ou membros do Governo tinham ou não conhecimento de que «os gerentes da Cooperativa Mar da Palha, compradora de terrenos à Expo, eram integrados por altos quadros da Expo», e se «há mais situações em que quadros da Expo são simultaneamente sócios, quadros, responsáveis ou têm ligações a empresas com negócios com a Expo?».

O deputado pergunta ainda se se confirma que «um ou mais funcionários da Expo cobravam comissões pelo aluguer de alojamentos a convidados e comitivas», indagando se «não houve fiscalização ou houve permissividade?».

João Amaral quer ainda saber que estudos e previsões foram feitos para justificarem o fretamento de três paquetes para servirem de hotel, «quais os custos da operação e índices de utilização?».

Na área da informática, o deputado pergunta como foram feitas as encomendas e a respectiva fiscalização, e se se confirmam «as ligações empresariais e/ou familiares entre detentores e responsáveis das empresas fornecedores e quadros da Expo?».

Entre outros casos menos claros, o parlamentar comunista solicita a confirmação de notícias que indicam «a venda à Expo por funcionários das viaturas que lhe eram entregues pela Expo como viaturas de serviço» e indaga sobre as razões que terão levado a Administração da Expo a abrir o inquérito às relações que mantinha com as empresas Projectoplano e Emproplan, e quais as suas conclusões.

João Amaral quer ainda que António Costa revele quais foram os casos de corrupção que foram objecto de denúncia em Março de 1995, pelos então deputados e hoje ministros Jaime Gama e Vera Jardim, assim como em que se basearam as previsões de afluência à Expo.

Recordando afirmações do Comissário Torres Campos à imprensa, segundo as quais os desfalques começaram em 1996, mas só foram detectados em 1998, João Amaral interroga-se sobre o que terá falhado nos sistemas de fiscalização e auditoria e pergunta se «já foi feita uma fiscalização à fiscalização da Expo?».

Por último, em relação à Gare do Oriente, para além do aumento brutal de custos, (que representa mais do que a duplicação em relação à previsão inicial), o deputado comunista coloca dúvidas em relação à sua concepção. «E que, apesar do seu altíssimo custo, a Gare não foi concebida como terminal de caminho de ferro, mas como uma espécie de estação de passagem, pelo que a Gare, neste momento, é, para o caminho de ferro, o apeadeiro mais caro do mundo, e não mais do que isso. Tal como está, a estação de partida continuará a ser Santa Apolónia, estação para onde aliás está a ser prolongado o Metro». Interrogando-se como foi possível tal investimento para uma estação deste tipo, João Amaral pergunta: «Quem assume a responsabilidade por esta surpreendente situação?».


«Avante!» Nº 1290 - 20.Agosto.1998