Kosovo
NATO
pronta a intervir
Os planos militares da NATO para uma intervenção no Kosovo estão prontos. Resta agora saber se e quando será tomada a decisão política, que em qualquer dos casos deverá aguardar pela cimeira entre os presidentes norte-americano, Bill Clinton, e russo, Boris Ieltsin, agendada para 1 de Setembro.
A eventual intervenção da NATO no Kosovo, hipótese defendida pelos Estados Unidos desde o desencadear dos confrontos naquele território jugoslavo, continua a não reunir consenso, quer a nível internacional quer no seio da própria Aliança, mas os responsáveis militares ultimaram já praticamente todos os planos para uma «solução» bélica. De acordo com notícias divulgadas em Bruxelas, foram inclusive autorizadas diligências «informais» no seio dos parceiros da NATO para apurar quais as forças que cada um estaria disposto a fornecer em caso de se avançar para a intervenção. A iniciativa justifica-se: na opção extrema delineada pelos estrategas militares - a ocupação do Kosovo -, prevê-se a utilização de 60.000 homens. Se, pelo contrário, a opção for a de enviar uma força de interposição, como os sérvios estariam dispostos a aceitar, o número de militares previstos é de 36.000.
De acordo com as informações vinda a público, os planos assentam em três grandes opções:
- Intervenções
aéreas na Sérvia em represália de uma escalada da violência
no Kosovo, com bombardeamento das defesas aéreas e instalações
militares sérvias;
- Intervenção aérea em grande escala, com objectivos
económicos, e deslocação de tropas para a região;
- Envio de uma força de interposição aceite pelas partes em
confronto, num esquema semelhante ao utilizado na Bósnia após
os acordos de Dayton.
Segundo um comunicado divulgado pelo secretário-geral da NATO, Janvier Solana, a Aliança «apoia os esforços da comunidade internacional para favorecer uma solução negociada do conflito e, com esse fim, reviu os planos militares para uma intervenção com grande número de opções para acabar com a violência e criar as condições para a negociação». Isso inclui, segundo o comunicado, «tanto a deslocação de forças terrestres como aéreas, e em particular intervenções em áreas isoladas.»
O patente desejo de intervenção no Kosovo tem esbarrado, até à data, não apenas com a frontal oposição de Moscovo, a quem sobejam motivos para considerar o conflito uma questão interna da Jugoslávia, como também de vários membros da Aliança, avessos a uma intervenção unilateral e mais favoráveis a uma decisão assente num mandato prévio do Conselho de Segurança da ONU. É justamente essa passagem pelo Conselho de Segurança que os EUA pretendem evitar, já que não é excluir o veto da Rússia ou mesmo de outros membros permanentes.
A incógnita
Entretanto, persiste a incógnita de saber quem representa efectivamente a minoria albansesa do Kosovo. Uma questão fundamental para as negociações de paz que todos dizem apoiar.
O dirigente
político dos albaneses do Kosovo, Ibrahim Rugova, anunciou há
dias a sua equipa de negociadores com o governo, que não inclui
representantes do Exército de Libertação do Kosovo (ELK).
Falando a semana passada numa conferência de imprensa em
Pristina, «capital» do Kosovo, Rugova disse que o ELK recusou a
sua oferta de participação na equipa, tal como dois dirigentes
políticos com ligações estreitas ao ELK, mas deixou uma porta
aberta para uma alteração desta posição. «Há lugares
abertos para outros representantes e políticos serem
incluídos», afirmou.
A equipa de negociadores é formada por Fehmi Agani, Fatmir Sadiu, Edita Tahiri, Tadei Radiqi e Iliaz Kurtesi, que pertencem a partidos representados no «parlamento» paralelo dos albaneses do Kosovo, onde a Liga Democrática do Kosovo (LDK), de Rugova, se encontra em maioria.
Recorda-se que o governo jugoslavo se mostrou disponível para discutir a restituição da autonomia à província.
Por seu lado,
diplomatas do Grupo de Contacto para a ex-Jugoslávia (Estados
Unidos, Rússia, Alemanha, Grã-Bretanha, França e Itália)
reuniram-se sexta-feira com a equipa de negociadores para iniciar
uma plataforma de conversações com o presidente Milosevic sobre
o futuro do Kosovo.
Segundo o emissário norte-americano Christopher Hill, a
comunidade internacional está pronta para ajudar o processo a
tornar-se um êxito.
«A equipa está preparada para iniciar o processo de
negociações apesar de a violência prosseguir no terreno»,
disse Hill, acrescentando que «é precisamente devido à
violência que é tão importante retomar negociações.»
Aparentemente
decidido a encetar um processo paralelo ao liderado por Rugova, o
ELK designou entretanto os seus representantes políticos e pediu
ao histórico do nacionalismo kosovar Adem Demaci que se converta
no líder da organização separatista.
Num comunicado do seu estado-maior, o ELK anunciou a nomeação
de Jakup Krasniqi, Xhavid Haliti, Bardhyl Mahmuti, Hashim Thaci,
Faton Mehmetaj e Sokol Bashota como representantes políticos da
organização.