Todos

A Festa do «Avante!» deste ano foi anunciada como «uma festa para todos», num tão claro como oportuno contraponto às festas que, logo à nascença, são pensadas apenas para um determinado público - como a Expo das elevadas despesas e dos farnéis proibidos.

Carlos Carvalhas, na abertura, reafirmou que «a grande festa da democracia, da liberdade e da alegria, festa do povo e da juventude, sempre renovada, sempre ponto de encontro de militantes, de amigos e de companheiros» é «uma festa com calor humano que procura não excluir ninguém».

Os três dias de festa mostraram, mais uma vez, que é assim: «todos» foram à Quinta da Atalaia, independentemente das suas convicções políticas e de outras características que nos fazem ser diferentes e iguais ao mesmo tempo. Quem esteve na festa, viu e sentiu uma total ausência de exclusão. Ninguém levou uma pancada mais forte nas costas por vestir uma t-shirt de uma reunião socialista em Cascais. Cumprimentaram-se com a mesma exuberância de sempre aqueles amigos - ele socialista, ela comunista - que trabalham juntos na colectividade do bairro ou na junta da freguesia. Passearam à vontade e muito satisfeitos os namorados que vestiam roupas caras e levavam no bolso o cartão do PP passado em Aveiro. Sentiram-se como peixes na água os milhares de jovens que são «aquilo que outras gerações não querem ou não percebem que sejamos» (como disse Ângelo Alves no comício de domingo). Não sofreram coacção nem tiveram receio de qualquer espécie os que não são comunistas ou até não se interessam especialmente por política. Tudo isto, com maior ou menor animosidade para com a Festa e o partido que a faz, foi bem mostrado por quem tem o ofício de dar notícias.

Por ignorância ou por militância anticomunista, um ou outro comentário, uma ou outra fotografia, este ou aqueloutro enfoque numa reportagem mostraram uma nítida vontade de retirar à festa o seu significado político e tentar limitar aos «copos e afins» os motivos da grande afluência popular à Festa do «Avante!». A força da festa acaba por conter as fúrias dos autores e dos seus mentores. Sabem uns, outros tinham obrigação de saber que a Festa do «Avante!» é «reconhecida como um grande evento político-cultural e que, nos seus diversos planos e nos seus aspectos mais tocantes e mais fraternos, exprime também os valores e os ideais que impulsionam, inspiram e dinamizam a intervenção e a luta desse grande colectivo que é o Partido Comunista Português» - como Carlos Carvalhas salientou sexta-feira. Deveriam uns saber e outros sabem que «o êxito e o impacto da Festa do "Avante!" não podem ser separados do facto de que aqui se respira uma firme confiança no valor e no futuro dos nossos ideais e convicções comunistas» - como sublinhou o secretário-geral do PCP no comício de domingo. A uns e outros teremos que dizer: encontramo-nos no próximo ano, na Atalaia - todos!

DM


«Avante!» Nº 1293 - 10.Set.98