Livros & Convívios

Com menos calor, o largo espaço dedicado aos livros teve este ano melhor convívio. Ali muitos leitores acorreram a adquirir exemplares dos mais de dois mil títulos disponíveis que três dezenas de editoras expunham. O destaque, evidentemente, foi para a Editorial Avante, a anfitriã do certame. E o livro que mais atenção suscitava era o Manifesto do Partido Comunista, um texto fundamental que há cento e cinquenta anos Marx e Engels escreveram e se tornou referência essencial para o movimento comunista internacional.

Espaço de escolha e de aquisição de livros, o pavilhão foi também ponto de encontro entre autores e leitores. Estes não acorreram apenas a solicitar autógrafos, mas a estabelecer diálogo. Um diálogo que muitas vezes decorreu informalmente à esquina de uma bancada ou em redor de um salgado ou de uma bebida fresca no bar. Ou então, em tempo e lugar definidos, a assistir a um lançamento, a aguardar vez para o almejado autógrafo.

Momentos mais significativos deste espaço decorreram no sábado e por isso ali nos deslocámos especialmente para assistir a uma homenagem e dois lançamentos. A homenagem sentida que foi dedicada ao saudoso Manuel da Fonseca, que Paulo Sucena, acompanhado de Francisco Melo, evocou. Não apenas ao escritor, mas ao amigo e ao camarada, ao lúcido homem que tão belas páginas deixou para prolongarmos com ele o nosso convívio. A homenagem decorreu no lugar dedicado aos lançamentos e colóquios, onde esteve patente uma modesta mas significativa exposição, composta por réplicas de documentos existentes no Museu do Neo-Realismo do Município de Vila Franca de Xira e por escritos do autor cuja obra completa está editada pela Caminho.

Tempo de Subversão

O primeiro lançamento a que fazemos hoje referência é o do novo livro publicado pela Editorial Avante, da autoria de Carlos Brito. O autor, que até há poucos meses foi director do nosso jornal, escolheu de novo a Festa do Avante para ali propor aos leitores esta nova obra que Urbano Tavares Rodrigues apresentou, acompanhado por Francisco Melo, o editor que no momento manifestou o seu gosto por mais esta edição e a esperança de que não decorra muito tempo sem que «outra novidade nos surpreenda».

Urbano Tavares Rodrigues referiu-se às qualidades da prosa de Carlos Brito que nestes textos nos dá conta de um tempo que vai dos anos cinquenta até ao 25 de Abril, num livro «fundamental para a compreensão desse período». O escritor fez notar que, sendo os textos compostos por recordações avulsas e memórias políticas, estas se «constituem em literatura e em história», em que o autor «narra e reflecte» sobre o painel das lutas desses tempos - «onde avulta a luta dos comunistas». Livro «importante para hoje» lhe chamou Urbano Tavares Rodrigues que salientou a importância destes textos para as jovens gerações.

Carlos Brito, que agradeceu ao editor a abertura e o interesse manifestado na publicação do livro e a Urbano Tavares Rodrigues as «palavras generosas» da apresentação, lembrou alguns dos propósitos que o levaram à escrita dos textos agora reunidos: a de contrariar a campanha de branqueamento do fascismo, a de combater, por outro lado, a deformação histórica, hoje em voga, em que o PS procura traçar um quadro da resistência «como se ela fosse dominada pelos socialistas» e, por fim, a de trazer ao conhecimento das gerações de hoje as lutas que os mais velhos tão bem recordam.

No final da apresentação, tempo houve ainda para troca de impressões com os que ali estavam a saudar o lançamento deste Tempo de Subversão, entre os quais muitos camaradas. Por lá passaram Domingos Abrantes e Miguel Urbano Rodrigues, João Honrado, João Amaral, Modesto Navarro.

Poemas do «Avante!»

Ainda nessa tarde de sábado e enquanto Carlos Brito assinava os seus livros, Mário Castrim autografava também os exemplares dos Poemas do «Avante!», que a mesma editora lançava a seguir. Francisco Melo manteve-se na mesa onde tomaram assento o autor dos Poemas acompanhado por quem teve a iniciativa de os recolher, o conhecido crítico de televisão Correia da Fonseca que também colabora regularmente no nosso jornal, e José Casanova, director do «Avante!».

Coube a Correia da Fonseca «desculpar-se» da «má acção e abuso de confiança» que foi recolher os poemas e organizar a edição. «Como se fosse entrar em casa de um amigo e fazer-lhs uma colecção das suas pratas», disse. É que Mário Castrim, com a sua conhecida modéstia, não parecia «achar graça» a este justíssimo gesto de amizade que, estamos certos, por nosso lado, encantará muitos dos nossos e dos seus leitores.

Falando a seguir, José Casanova, manifestou a grande satisfação pelo lançamento deste livro poucos meses após ter iniciado a tarefa como director do nosso jornal. Casanova, que lembrou a colaboração semanal de Castrim nas nossas páginas, recordou também o papel desempenhado ao longo de décadas pelo autor como crítico de TV, especialmente no «Diário de Lisboa», a ligação permanente de Castrim às aspirações populares, o papel que teve como formador político e ideológico de numerosos leitores que sobre as sua prosas reflectiam.

Finalmente, Mário Castrim explicou, tentando desvalorizar a preciosa colaboração que tem prestado ao «Avante!», imaginando uma parábola sobre «as pedras que brilham tanto à beira do mar e perdem o brilho quando chegamn a casa». Reunidas em livro, estas «pedras», estes poemas, têm, porém, brilho próprio...

L.M.


«Avante!» Nº 1293 - 10.Set.98