A audácia de conquistar

Cor e movimento, muita alegria, boa música, debate político, convívio, ambiente de festa, foram ingredientes que concorreram para que a Cidade da Juventude voltasse a ser um permanente espaço de animação por onde passaram muitos e muito milhares de jovens.

Magnificamente situada, paredes meias com o grande "círculo de verde" fronteiro ao Palco 25 de Abril, a decoração dos seus 44 módulos, estilizando ruas e edifícios, sugestionava claramente o ambiente urbano em que intervêm as organizações da JCP e seus militantes.

Uma imagem sublinhada pela reprodução de vários murais temáticos que ao longo dos anos vêm marcando no espaço urbano a acção dos jovens comunistas em defesa dos interesses e direitos juvenis. "O racismo é uma doença que só afecta as mentes ignorantes. Vacina-te. Adere à JCP", podia ler-se num desses murais.
Organizada de um modo a permitir uma melhor circulação e uma melhor e mais ampla fruição do espaço, a Cidade teve ainda o seu "marco de urbanidade" fundado em duas torres com mais de oito metros de altura onde duas figuras - um rapaz e uma rapariga - simbolizavam de punho erguido a luta dos jovens comunistas.

Uma luta que a exposição política testemunhou ao longo de vários painéis centrados nas grandes questões concretas que hoje mais afectam ou preocupam os jovens: a educação, o emprego, a interrupção voluntária da gravidez. Por assim ser, em textos curtos e directos, lá estava um painel lembrando ao visitante que o "aborto clandestino existe", atingindo mais de 20 mil mulheres por ano, das quais morrem em média 15, sendo que 30 por cento do total das mulheres que abortam têm menos de 15 anos. Ou aquele outro alertando para as propostas do Governo PS no plano laboral visando "uma geração sem direitos". Ou ainda o painel dedicado à educação onde se afirma que esta "é um direito, não é um serviço", concluíndo que os "direitos não se pagam, conquistam-se!".

Dos principais problemas juvenis se falou também, ao longo dos três dias, no Café-Concerto. Combinando equilibradamente as duas componentes para as quais estava vocacionado - ser um espaço de convívio e de discussão política - , pelo palco do Café Concerto passaram bandas inseridas nas mais variadas correntes musicais, que actuaram, sempre com êxito, para um público vasto e entusiasta.

Um grau de adesão em tudo idêntico ao que se verificou no decorrer dos debates políticos que ali tiveram lugar ao longo dos três dias. Isso mesmo teve o repórter oportunidade de constatar na noite de sexta-feira durante a discussão sobre as propostas do Governo PS em matéria laboral. Subordinado ao tema "Sem Emprego não há futuro, e emprego sem direitos não é futuro para ninguém", o debate contou com a presença de Jerónimo de Sousa, membro da Comissão Política, que, referindo-se às verdadeiras intenções do Governo nesta matéria, deixou um alerta: "alguém quer tramar a juventude e criar uma geração 2000 sem direitos". Este seria, aliás, o mote da sua intervenção, ao longo da qual pôs em relevo o papel decisivo da luta dos trabalhadores para impedir a destruição de direitos por si conquistados.
Direitos esses que o Governo PS quer agora pôr em causa, não exactamente aos trabalhadores actualmente no activo - "a esta geração sabem que têm dificuldaede em tirar direitos", frisou Jerónimo de Sousa -, mas às novas gerações que vão entrar no mercado de trabalho já a partir de 1999.
"O Governo quer tramar a juventude através de uma alteração de fundo ao que é hoje o edifício jurídico laboral português", acusou o dirigente comunista, dando como exemplos dessa linha de ataque aos direitos dos trabalhadores o conceito de trabalho parcial, as alterações no plano das férias, dos contratos a prazo, do Sistema de Segurança Social, os conceitos de turno e de retribuição, todo um conjunto de diplomas que, concluiu, "têm um privilegiado: o capital".

A anteceder a intervenção de Jerónimo de Sousa interveio Bernardino Soares, jovem deputado que demonstrou, face ao número e tipo de iniciativas apresentadas no Parlamento, como a "JCP é a única organização que se preocupa com a juventude e quer ver os seus direitos melhorados e cumpridos". O camarada Daniel, da Direcção Nacional da InterJovem, por sua vez, deu um testemunho das lutas travadas pelos jovens trabalhadores no Norte, fazendo notar que embora a "luta não seja fácil" é possível concretizá-la com sucesso e "mobilizar os jovens e os trabalhadores" como aconteceu no sector têxtil na luta pelas 40 horas.

J.C.


«Avante!» Nº 1293 - 10.Set.98