Defesa Nacional e Forças Armadas

First Fighter...


... é o título de um filme que mostra as virtudes dos U.S. Marines. Mas é também a concepção que está subjacente à eliminação do serviço militar obrigatório e à constituição de umas FA's de quadros permanentes e voluntários.

Sabe-se que o objectivo para Portugal é o de vir a dispor de uma força operacional (entre ramos) de 3000 homens, pronta para satisfazer quaisquer compromissos.
As variadas, complexas e contraditórias alterações internacionais verificadas nos últimos anos, desembocaram não na aposta no reforço das organizações vocacionadas para a paz e a cooperação, mas na expansão e domínio crescente e tentacular da NATO. Expansão e domínio esses que vão corroendo como ferrugem os sistemas de segurança colectivos existentes, vocacionados para a prevenção da guerra, tudo acompanhado de reforço militar - "melhores" homens, melhores armas, mais e cada vez maior sofisticação tecnológica - sob controle dos Estados Unidos. Assiste-se por um lado, à diminuição de efectivos militares um pouco por toda a Europa, mas por outro lado, o processo de alargamento da NATO que está em curso vai-se traduzir num reforço humano e material da Aliança.
Uniformizam-se sistemas de armas, de comunicações, escalões hierárquicos, sistemas de treino e conteúdos formativo-doutrinais; uniformizam-se procedimentos e "papelística" inerente; uniformizam-se as relações percentuais dos orçamentos da defesa relativamente aos PIB's; especializam-se (com tropeções) as Forças Armadas dos diversos países em função do que têm e dos objectivos definidos; os conceitos estratégicos têm como base os conceitos NATO e os sacrossantos interesses da Aliança. Veja-se a ligeireza com que o Ministro Veiga Simão compromete Portugal, através das suas Forças Armadas, sem ouvir o Presidente da Républica e a Assembleia da Républica, no que respeita às decisões da NATO sobre o Kosovo. Atente-se na afirmação do mesmo Ministro de que a NATO não têm de ouvir o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
À globalização da economia vai correspondendo, com percalços e velocidades variáveis, a globalização no plano militar.
Também a extinção do SMO é um processo praticamente global, ao nível dos países da NATO. É um processo global com variações quanto à forma e quanto ao conteúdo.
Quanto à forma, porque houve noutros países a promoção de amplas e alargadas discussões e reflexões sobre a matéria. Cá, discute-se antes as habilidades sexuais de Clinton.
Quanto ao conteúdo, porque nalguns países as portas não ficaram inteiramente fechadas aos jovens que queiram ter uma instrução militar básica e muito menos o ficaram a um amplo contacto da Nação com as respectivas Forças Armadas. Cá, parece ir vencer a tese pura e dura da extinção e depois logo se vê... A questão é que o "depois" é, nesta matéria, tarde, como o foi a opção da redução para os quatro meses.
Há hoje, sem dúvida, quesitos operacionais e técnicos incompatíveis com o actual tempo de SMO. Mas não é necessária a sua extinção. Prudente e vantajoso é, para um país como o nosso, a manutenção de um SMO como vector civíco-formativo e de coesão nacional.
Não imaginamos possível hoje, assistir à repetição das imagens de que nos dá conta o filme " O resgate do soldado Ryan", mas também não vemos qualquer vantagem no incremento do conceito de First Fighter. — Rui Fernandes


«Avante!» Nº 1297 - 8.Outubro.1998