Imigração na Suíça
A integração e as grandes dúvidas


Várias associações de estrangeiros recusaram recentemente o projecto "Leitbild" sobre a integração posto à discussão pública pela administração da cidade de Zurique. Na verdade a contestação abriu a possibilidade de participação mais forte no lançamento de ideias pela igualdade de direitos entre suíços e estrangeiros, obrigando o presidente da cidade Josef Estermann a iniciar um contacto directo com a população.

Os adeptos e defensores do neoliberalismo continuam com todos os meios e em todas as frentes a acelerar a criação de valores desajustados das realidades vividas pelas populações.

Foi, assim, em Zurique, a cidade com maior número de população na Suíça, com a melhor qualidade de vida da Europa, e a mais cara. Uma população estrangeira a rondar os 30 por cento, e com 40 por cento de crianças estrangeiras a frequentarem as suas escolas.
O projecto de integração foi considerado pouco corajoso. Mas, uma boa parte das organizações estrangeiras, foi mais longe ao afirmar que se trata de um produto do aparelho municipal, de terem cedido às pressões da crise económica e de ser o resultado de um fraco e selectivo diálogo com a população estrangeira.
Para aqueles que seriamente participaram, ou entraram nesta fase final da discussão e análise do documento, as opiniões não divergem muito, na maioria dos casos revelam alguma resignação, estranheza, e pouco entusiasmo pelo texto em causa.
A cidade de Zurique merece um outro "Leitbild" de integração em que os cidadãos estrangeiros e as suas organizações tenham mais espaço de participação democrática e os seus direitos como cidadãos, que pagam os seus impostos como qualquer suíço, sejam efectivamente reconhecidos, como por exemplo o direito de votar e de ser eleito, um direito que os estrangeiros esperam ver reconhecido no futuro e pelo qual lutam há muitos anos.
Estranha-se igualmente a posição crítica do documento aos cursos de língua materna e de cultura de origem dos filhos dos emigrantes. Isto quer dizer que se coloca em causa os cursos de língua e cultura portuguesa, da inteira responsabilidade do Estado português, sem nenhuns custos para a cidade de Zurique. Estes cursos, que sempre foram reconhecidos pela importância pedagógica, social e económica, são postos em causa num momento em que a aprendizagem do Inglês nas escolas primárias da cidade passou a ser obrigatória. Pergunta-se: afinal onde está a lógica? As críticas foram duras o que obrigou à realização de encontros entre os responsáveis do município e a população suíça e estrangeira. Estas reuniões estão a ser de grande utilidade, no entanto não deixam de ser graves as posições contrárias a uma sã integração da população estrangeira defendidas publicamente pelos membros dos partidos de direita.


Pouca participação
portuguesa

Não se pode afirmar que os portugueses estiveram totalmente ausentes deste processo de discussão, não devemos, nem temos o direito de "dramatizar" as coisas a esse ponto. Sabemos que houve pouco debate, tal como aconteceu com outras comunidades. Para isso contribuiu a linguagem difícil do documento o que logo de início criou uma barreira. No entanto, houve portugueses que participaram em discussões e deram contributos de valor na elaboração de tomadas de posição de várias organizações. Para além disso, a Associação Portuguesa de Zurique consagrou uma parte da sua última Assembleia Geral à apreciação e discussão das propostas da cidade.
Finalmente, e pensando bem… toda a contestação ao "Leitbild" abriu as portas a uma vasta discussão sobre a integração dos estrangeiros. Exactamente aquilo que tinha faltado no início da elaboração do documento. — Manuel Beja


«Avante!» Nº 1297 - 8.Outubro.1998