Autonomia e gestão das escolas
Governo
quer desresponsabilizar o Estado
Previa-se para esta semana o início da apreciação em sede de especialidade do decreto lei sobre a autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos de educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário. Recentemente submetido à ratificação do plenário, por iniciativa da bancada comunista, o diploma mantém nos seus traços essenciais, por um lado, a desresponsabillização do Estado na defesa da escola pública, e, por outro, uma inadmissível desconfiança nos professores.
Sobre estas duas
características fundamentais que perpassam o articulado do
diploma se pronunciou já a deputada comunista Luísa Mesquita na
apreciação parlamentar realizada há cerca de quinze dias
quando acusou o Governo de ter como objectivo na área educativa,
"em nome de uma falsa autonomia", a
"desresponsabilização do Estado face à escola
pública".
Fundamentando o seu ponto de vista, a deputada comunista lembrou
que nas intenções da tutela nunca esteve verdadeiramente
"uma profunda reestruturação de toda a máquina
ministerial com vista à sua progressiva descentralização"
- requisito fundamental para concretizar a autonomia.
"O Ministério da Educação descobriu para a
"história" das confusões contratuais que o regime de
autonomia se construía com a celebração de contratos, fazendo
imperar logo à partida a desigualdade entre as partes
contratantes, dado que o Ministério da educação é
simultaneamente uma das partes e também a estrutura
hierarquicamente superior", observou Luísa Mesquita, antes
de concluir que, deste modo, "anuncia-se um cenário de
devolução de poderes às escolas", mas, simultaneamente,
"regulamenta-se por decreto-lei a manutenção desses mesmos
poderes, optando pelo controlo remoto das estruturas
desconcentradas do Ministério da Educação, aliviando
responsabilidades e pressões que as escolas colocam
quotidianamente à administração central".
Mas se o "regime de aparente autonomia" é o
"melhor caminho para a progressiva destruição da escola
pública", como sublinhou Luisa Mesquita, os regimes de
gestão e de administração, esses, ainda em sua opinião,
"constituem o modelo organizacional que, em coerência,
permite ao Ministério da Educação garantir os princípios de
desresponsabilização do Estado no financiamrnto do sistema
público de educação".
Verberada pela deputada do PCP, noutro plano, foi a situação de
marginalidade para que são remetidos alguns órgãos da escola
no que se refere a deliberações sobre o seu respectivo
funcionamento. É o caso, assinalou, da Assembleia - órgão
responsável pelas linhas orientadoras da escola - a quem é
nagada competência para aprovar o orçamento anual da escola,
bem como do conselho pedagógico a quem compete somente elaborar
sugestões prévias, retemendo-se para a direcção executiva a
competência dos projectos educativos e do plano anual de
actividades.
Luísa Mesquita adiantou,
entretanto, em declarações ao "Avante!" o propósito
da bancada comunista de apresentar em sede de especialidade um
conjunto de propostas no sentido do reforço da autonomia para as
escolas, "quer no plano pedogógico, quer no plano
organizativo, assente no reforço dos recursos a transferir pelo
Estado".