Honra a José Saramago


"Escritor multifacetado", que "impregna as suas obras de ideias criadoras e preocupações sociais profundas" e que "logrou ultrapassar as tradicionais resistências a reconhecer Portugal como um país de empolgante literatura".

As palavras, aludindo a José Saramago e à sua obra, são do Presidente da Assembleia da República e constam do voto de congratulação por si rubricado que o Parlamento aprovou por unanimidade e aclamação.

Submetido à Câmara faz hoje uma semana, no próprio dia em que foi divulgada a atribuição do Nobel da Literatura, o texto começa por referir que "o dia de hoje amanheceu jubiloso para Portugal", considerando tratar-se de uma distinção que confere à literatura portuguesa "a sua plenitude e o pico mais alto da sua consagração".
"Honra a José Saramago! Glória à literatura portuguesa e a Portugal!", pode ainda ler-se no voto, onde, depois de realçada a importância da sua obra, a Assembleia da República "saúda e felicita calorosamente" o autor de "Memorial do Convento" e exprime o seu "mais profundo reconhecimento".
Também o Grupo Parlamentar do PCP expressou o seu regozijo por esta alta distinção, tendo, na ocasião, pela voz de José Calçada, proferido a seguinte declaração:

"Foi hoje atribuído o Prémio Nobel da Literatura ao escritor português José Saramago. É a primeira vez que o Prémio distingue a obra de um escritor de língua portuguesa. Por circunstâncias várias, nunca até agora a nossa língua - uma das mais faladas do mundo - havia sido alvo de uma tal distinção. Porque se é um escritor e uma obra que deste modo se premeiam - são também uma literatura, uma língua, uma identidade, um povo e uma cultura que no escritor se corporizam. Quem se não orgulhará por a partir de agora os "Levantado do Chão", "Memorial do Convento", "A Jangada de Pedra" ou "Ensaio sobre a Cegueira", entre outros, passarem a exibir a chancela do Prémio Nobel ? Tanto quanto Saramago, todos nós nos arrogamos legitimamente à partilha deste prémio. Todo o escritor é o homem do sonho - e Saramago soube construí-lo universal e com a caneta bem assente nesta terra e neste povo que são os nossos. É com comoção, e enorme alegria, que vemos hoje o Prémio Nobel nas mãos - também calosas, à sua maneira - de um filho e neto de camponeses".


«Avante!» Nº 1298 - 15.Outubro.1998