Protestos na Rússia:
«Ieltsin, demite-te!»


Mais de 10 milhões de pessoas sairam à rua, no passado dia 7, em inúmeras localidades da Rússia, para exigir a demissão do Presidente Boris Ieltsin, o pagamento dos salários em atraso e a mudança na política económica do Governo. «Ieltsin, demite-te» foi a palavra de ordem mais ouvida.

A jornada, convocada pelo Partido Comunista e pelas organizações sindicais, foi marcada por milhares de manifestações e de greves. Entre os manifestantes contavam-se professores, mineiros, reformados, estudantes, donas de casa, médicos e militares. Os protestos foram vigiados pelas forças de segurança. Na capital foram mobilizados 11 mil polícias e quatro mil elementos do Ministério do Interior.
Para o líder da União de Sindicatos Russos, Mikhail Chmakov, um dos organizadores, Ieltsin não conseguiu «garantir os direitos constitucionais, os direitos humanos e os direitos dos trabalhadores».
No sector carbonífero a maior parte dos trabalhadores aderiu à acção de protesto. A participação nos comícios foi, regra geral, muito superior às expectativas. Na bacia do Kuznetsk, de 82 explorações apenas sete empresas trabalharam a cem por cento. Nas empresas da península da Sakhalina, fizeram greve oito mil mineiros e em Primorie 17 mil. Em Rostov-no-Don, as minas e as empresas ligadas ao sector pararam completamente.
Na região de Moscovo tiveram lugar comícios em 22 cidades. Segundo a polícia, 150 mil pessoas participaram nos protestos na capital. O comício de São Petersburgo juntou cerca de 120 mil pessoas, registando-se ainda greves em 25 empresas, nomeadamente nos grandes complexos industriais.
Na república do Altai, mais de 20 mil pessoas participaram na jornada, 310 colectivos de trabalhadores fizeram greve por 24 horas e 500 realizaram comícios nas empresas.
Nos protestos de Vladivostok participaram trabalhadores de 37 mil empresas e organizações. Na zona franca da Nakhodka, houve uma manifestação de mulheres e filhos dos militares em serviço no aeroporto «Planície Dourada» e na praça central da zona franca teve lugar o maior comício dos últimos dois anos, com três mil pessoas.
Em Birobidjan, capital do distrito autónomo judeu, os primeiros a manifestarem-se foram os trabalhadores das comunicações. Mais tarde aderiram também trabalhadores das empresas comunais, das escolas primárias e da fábrica de sistemas de aquecimento. Nos plenários, greves e manifestações estiveram mais de 30 mil pessoas.
Mais de 40 mil pessoas juntaram-se na região de Krasnoiarsk. Outras acções decorreram em mais 42 capitais de distrito e 16 cidades da região. Registaram-se greves em 661 empresas, calculando-se em 250 mil pessoas os participantes em todos os actos. Na cidade de Nazarovo, o comício contou com 30 mil pessoas, ou seja, quase toda a população adulta.
Em Iakutsk, capital da república de Iakutia, participaram ao todo mais de 300 mil trabalhadores, enquanto em Novosibirsk juntaram-se mais de 170 mil. O governador da região emitiu um comunicado apoiando a acção de protesto.
Em Sverdlov realizaram-se comícios em 27 cidades, sendo a participação geral de 60 mil pessoas. Em Orenburg, 600 empresas paralisaram o trabalho por 2/3 horas e 60 escolas não funcionaram. Ao todo, na região, estiveram presentes na acção mais de 70 mil pessoas.

Esta jornada de protesto teve lugar quatro semanas após a nomeação do novo primeiro-ministro, Ivgueni Primakov. As palavras de Primakov, que no dia anterior à jornada prometera o pagamento dos salários em atraso, parece não terem merecido a confiança da população.