UE
Discussão sobre recursos próprios
PCP
alerta para perigo de aumento das disparidades
A União Europeia desencadeou recentemente, de forma oficial, a discussão de um dos temas mais melindrosos da sua agenda: os recursos próprios da Comunidade, isto é, com quanto é que cada país contribuirá para o orçamento comunitário e que critérios presidirão a esses cálculos, por um lado, e a estrutura e critérios das despesas orçamentais, por outro.
O tema foi
despoletado pelo desajustamento do actual modelo, mas sobretudo
para dar resposta às queixas de alguns dos países ditos
«ricos» da União Europeia, que mais contribuem para o
orçamento comum (com a Alemanha à cabeça) e que querem ver os
respectivos saldos negativos diminuídos. Face a esta situação,
o presidente da Comissão Europeia apresentou recentemente uma
proposta com três opções de cálculo de entre as quais os
Quinze deverão escolher uma.
Por seu lado, e tendo em conta as importantes repercussões que
esta discussão terá, os deputados do PCP ao Parlamento Europeu
divulgaram uma declaração em que rejeitam liminarmente as
propostas da Comissão e consideram que estas «não constituem
sequer uma base de trabalho para o importante e necessário
debate sobre os recursos próprios comunitários».
Os deputados reclamam a clarificação prévia de algumas
questões, sublinhando que «os aspectos financeiros não podem
desligar-se da respectiva contextualização económica e de uma
perspectiva de justiça redistributiva e de solidariedade
comunitárias».
Por outro lado, «a solidariedade comunitária deve cumprir-se
quer no âmbito das receitas quer no contexto das despesas
comunitárias» e «os recursos deverão ser fixados em função
dos objectivos que se propõem atingir, não podendo admitir-se
que, ao invés, os últimos sejam condicionados por uma prévia e
restrita definição dos meios financeiros».
Como explicam os eurodeputados, a Comissão não respondeu
positivamente a nenhuma destas questões, manifestando,
«através da declaração do presidente Santer duas intenções
centrais: ultrapassar os "desequilíbrios" actuais, no
respeitante às contribuições dos Estados-membros; e aplicar o
princípio do "justo retorno" (as transferências
serão efectuadas em correspondência com as contribuições
respectivas)».
«A Comissão não só não formula nenhuma resposta concreta
sobre o sistema de recursos próprios como se limita a apontar
sugestões no limite das despesas sugerindo a sua redução e
dando assim continuidade à sua anterior proposta de fixação de
fixação do plafond de recursos próprios em 1.27% do PNB
comunitário», sublinham os eleitos comunistas.
«A Comissão opta manifestamente pela renacionalização dos
custos da PAC», revelando «uma clara sintonia com as
exigências alemãs neste importante domínio» e simultaneamente
afirmando «as mais sérias reservas relativamente a um sistema
de recursos próprios progressivo e baseado no PNB de cada
Estado-membro, demarcando-se, assim, da única opção favorável
aos países de menor desenvolvimento».
Os deputados do PCP no Parlamento Europeu chamam a atenção para
o perigo destas orientações preconizadas pela Comissão,
nomeadamente quanto a um eventual corte nas despesas com as
acções estruturais e também no que respeita à
renacionalização da PAC.
«Sublinha-se, em particular, que desta última resultaria um
inevitável acréscimo das disparidades actuais ao nível do
sector primário, em prejuízo das agriculturas mais débeis,
porque correspondentes aos Estados-membros também com maiores
debilidades orçamentais e, portanto, com maiores dificuldades no
apoio interno aos respectivos agricultores», lê-se no
documento.