Grandioso comício em Montemor-o-Novo
Alentejo diz Sim à Regionalização



"Com o medo não se constrói o futuro; com fantasmas não se constrói o progresso. Por isso, no domingo, vamos afastar medos e fantasmas, vamos votar Sim." Com este apelo, perante uma plateia ao rubro que enchia o Cine Teatro Curvo Semedo, em Montemor-o-Novo, concluiu o Secretário-Geral do PCP, Carlos Carvalhas, a sua intervenção no comício realizado no passado sábado de apoio à campanha pelo Sim à criação das regiões. Nas suas palavras, sublinhadas por intensos aplausos, reflectida estava uma das tónicas que dominara o seu discurso: o convite, nesta recta final, para a mobilização de todo o Partido no sentido de intensificar a batalha do esclarecimento por forma a que os eleitores no dia 8 possam votar em plena consciência, libertos dos bloqueios e constrangimentos impostos pela mentira e pela demagogia populista que tem marcado no fundamental a campanha dos adversários da regionalização.

A exemplo do que tem sucedido por todo o País, onde se têm multiplicado as iniciativas promovidas pelas organizações do PCP, também no Alentejo, pode dizer-se, é visível este empenhamento dos comunistas e de outros democratas no sentido de elucidar com verdade as populações sobre o que está em jogo no próximo domingo. Os resultados desta acção, esses, no caso da região alentejana, são também identificáveis, podendo aferir-se, por exemplo, no clima de tranquila confiança quanto à obtenção de um bom resultado do Sim.
Disso mesmo foi testemunho o grandioso comício de Montemor-o-Novo. Com o vasto salão a rebentar pela costuras, em ambiente de festa, os presentes, rondando os dois milhares, deram mostras do seu entusiamo e, sobretudo, da vontade de não regatearem esforços no sentido de aprofundar a dinâmica de esclarecimento em curso na região. Provenientes de vários concelhos, de Serpa a Portalegre, de Estremoz a Aljustrel, com as suas bandeiras e cartazes, reiteraram em palavras de ordem a sua determinação em lutar pela criação das regiões.

Ambiente de confiança

Confirmando o significado desta participação, já no final do comício, em declarações ao "Avante!", José Soeiro, membro da Comissão Política, realçava o facto de este ter sido "um dos maiores comícios feitos no Alentejo". Mais importante ainda era a circunstância de a sua realização, com esta vivacidade, em plena campanha do referendo, traduzir, afinal, como sublinhou, apenas mais um marco do vasto conjunto de iniciativas que têm vindo a ser realizadas - sessões de esclarecimento em todas as freguesias, contactos de porta-a-porta, distribuição de documentos - , todas elas caracterizadas no essencial por uma enorme receptividade à mensagem do PCP em defesa do Sim.
Também Rogério de brito, presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, em conversa com o repórter, não escondeu a sua confiança na vitória do Sim no Alentejo. Visivelmente satisfeito com a forma como decorrera o comício, tanto pela força mobilizadora demonstrada, como pela atmosfera de confiança que se respirou, revelou-se convicto de que a "fidelidade partidária" irá de novo ser uma realidade no sufrágio de domingo e que os alentejanos, "confiando naqueles em que sempre têm acreditado", seguirão a orientação de voto do PCP e dirão nas urnas Sim à regionalização.
Um Sim que no decorrer do comício foi repetidamente gritado pelos que ao princípio da tarde afluíram ao Cine-Teatro de Montemor-o-Novo. Antes do período de intervenções, à hora marcada para o seu início, com a sala já cheia, foi ainda tempo para em ambiente de festa ouvir a bela voz de Luísa Basto e o cante do Mineiros de Aljustrel.
Presidido por Carlos Pinto de Sá, edil que está à frente da Câmara de Montemor-o-Novo, o comício iniciou-se de seguida com a subida ao palco dos presidentes de Câmara do Alentejo eleitos pelo PCP no quadro da CDU, bem como dos presidentes das associações de municípios e das regiões de turismo Planície Dourada e de Évora. Chamados para a mesa foram ainda os deputados do PCP eleitos à Assembleia da República e ao Parlamento Europeu e, bem assim, os camaradas que integram o Organismo Inter-Regional do Alentejo do PCP.
Sublinhando a importância de "uma boa e não egoísta escolha" no dia 8, Ana Rita, falando em nome da JCP, foi a primeira oradora. Disse acreditar num "País mais igual" e manifestou-se convicta de que o "aprofundamento da democracia exige a participação dos jovens" e que com a regionalização é "não apenas Portugal que ganha mas também a população e a juventude".

Por uma gestão eficaz e transparente

José Soeiro, responsável pelo Organismo Inter-Regional do Alentejo do PCP, foi o segundo orador a subir à tribuna. Expostas por si foram, sinteticamente, as razões pelas quais o PCP exorta ao Sim. "Porque queremos à frente da região homens com rosto, eleitos por nós, que nos prestem contas das decisões que tomam, que defendam os interesses da nossa região, junto do Governo e das instância comunitárias, e não pessoas nomeadas pelo Governo, dependentes dos ministros que os nomeiam, que tomam decisões sem nos ouvir, de costas voltadas para o poder local, como sucede actualmente com a direcção da CCR do Alentejo cujo presidente se preocupa mais em tentar desestabilizar a Câmara de Évora, onde é vereador, do que em bater o pé ao Governo e exigir para o Alentejo aquilo de que o Alentejo necessita, aquilo a que o Alentejo tem direito".
Depois de desenvolver um conjunto de outros argumentos em favor do Sim, como seja o de "uma gestão melhor, mais eficaz e transparente dos dinheiros disponibilizados para cada região, na base de uma lei de finanças regionais que cumpra os princípios de subsidiariedade e da solidariedade nacionais", José Soeiro asseverou ser chegada a hora de "haver no Alentejo órgãos regionais democraticamente eleitos que assegurem um corecto planeamento e ordenamento do território, pondo termo à descoordenação hoje existente entre os diversos serviços desconcentrados do Estado instalados no Alentejo".
"É tempo - enfatizou, em tom muito crítico - de acabar com o esvaziamento de serviços das cidades de Beja e Portalegre e assegurar uma política de maior aproximação dos serviços aos cidadãos".
Verberada pelo dirigente comunista foi ainda a acção desenvolvida pelo PS no distrito de Beja centrada no pressuposto de que "votar Não ao Alentejo significaria votar Sim à criação de uma região no Baixo Alentejo". "Uma tal campanha - esclareceu - assente na mais descarada demagogia só serve para confundir o eleitorado e é indiscutivelmente um mau serviço prestado ao processo da regionalização e desde logo aos alentejanos e à sua região".

Aprofundar a democracia

Carlos Carvalhas foi o último orador do comício. Calorosamente recebido, o Secretário-Geral do PCP interpelou directamente os presentes, começando por perguntar: "algum de vós, que conheceis o PCP, acredita que estamos com a regionalização para criar mais impostos, mais burocracia, mais tachos? Este Partido alguma vez deixou de cumprir as promessas ?"
Num discurso frequentemente interrompido por aplausos, o dirigente comunista lembrou depois que a regionalização abre caminho a uma maior racionalidade e à resolução dos "problemas com menos custos", permitindo, simultaneamente, através de uma "maior intervenção das populações", um "aprofundamento da democracia".
Dos méritos da regionalização falou ainda Carvalhas para estabelecer um contraponto com a realidade actual em que, por exemplo, por força da burocracia, um Plano de Pormenor carece da aprovação do Conselho de Ministros ou a simples instalação de uma indústria precisa da chancela do respectivo ministério.
Por si desmontados foram também alguns dos argumentos utilizados pela direita, a quem acusou de recorrer à linguagem da mentira (deu como exemplo a criação de impostos) e de pretender que "os cidadãos fiquem receosos e não votem em consciência". A este propósito, num convite à reflexão, voltou a deixar uma pergunta no ar: "Então eles, ele Cavaco Silva, ele PSD, ele Marcelo rebelo de Sousa, não dividiram já o País por baixo da mesa, à surrelfa, em cinco comissões de coordenação regional, onde estão cidadãos não eleitos que foram designados pelo Governo, que administram milhões de contos, milhões de contos em que o poder local está posto à margem ?"
Lembrado por Carlos Carvalhas foi ainda o exemplo do poder local, concretamente o facto de este ter avançado em 1976 não obstante estarem na altura por definir as suas atribuições e, inclusive, nem sequer existir a Lei de Finanças Locais. "Se estivéssemos agora aqui a decidir, isto é, se o referendo fosse para haver ou não haver poder local democrático, com presidentes de câmara eleitos, certamente que eles, os apoiantes do Não, estariam com os mesmos argumentos", observou o dirigente do PCP.
Deixado por Carlos Carvalhas foi, por último, em nome do PCP, um apelo ao voto no Sim no próximo domingo, apelo com a autoridade do partido que "não volta às costas às dificuldades" e que está nesta "luta pela regionalização", sublinhou, do mesmo que está na "luta por melhores reformas", na luta "pela valorização da agricultura portuguesa", ou na "luta pela justiça fiscal no Orçamento do Estado".
«Avante!» Nº 1301 - 5.Novembro.1998