"Os Verdes" denunciam negócio e fraude



A política de resíduos industriais e em particular a polémica co-incineração de resíduos industriais tóxico-perigosos em cimenteiras, foi tema de uma conferência de imprensa realizada, esta terça-feira, pelo Partido Ecologista "Os Verdes", na sua sede, em Lisboa. Em documento distribuído à imprensa - "Co-incineração: o negócio, a fraude, o brinde e a fava" - "Os Verdes" reafirmam a sua oposição à política de resíduos industriais que tem vindo a ser seguida.
Como bases sobre as quais se deve construir a política de resíduos industriais, "Os Verdes" defendem, em primeiro lugar, um registo fiável da quantidade e tipologia destes resíduos, nomeadamente os tóxico-perigosos.
Sublinham, por outro lado, a urgência de "desenhar uma estratégia de redução na produção de resíduos, com o estabelecimento de prazos".
Por último, afirma-se no documento distribuído à imprensa. "é preciso estudar todas as alternativas possíveis de tratamento". Recusando "a queima de resíduos em cimenteiras como alternativa à queima de resíduos em incineradoras", "Os Verdes" defendem que "há outros caminhos a percorrer".

Um brinde às cimenteiras
A fava para as populações

De que é de negócio que se trata, é o próprio sector cimenteiro a considerá-lo. Para "Os Verdes", está em causa um verdadeiro brinde às cimenteiras, "a quem o Ministério do Ambiente vai dar 1,5 milhões de contos do nosso dinheiro público para compensar o enorme prejuízo que estas teriam com a colocação dos filtros de mangas nas suas chaminés", filtros que aliás já existem com a actividade de produção de cimento.
A fava, essa está destinada às populações. Irá ser repartida entre o Barreiro, a Arrábida, Alhandra, Souselas e Maceira. E, sublinham ainda os ecologistas, "sobra ainda um bocado para cada um de nós que vai continuar a morar num país onde os resíduos vão continuar a contaminar as nossas águas e os nossos solos, porque continuam espalhados e sem solução".
Referindo cada uma das localidades abrangidas, o documento lembra que pela Estação de Tratamento do Barreiro irão passar, em teoria, todos os resíduos produzidos em Portugal, que Arrábida e Alhandra deverão ficar com a primeira fase da co-incineração, apesar de estarem em causa, quer um Parque Natural, quer uma vila inserida na maior área metropolitana do país, e que Souselas e Maceira, que deverão ficar com a segunda fase, englobando os resíduos industriais não perigosos, não contam tão pouco com "o brinde dos filtros de mangas".

A fraude

Todo este quadro é tanto mais grave quanto, defende o Partido Ecologista, "a co-incineração constitui uma fraude."
Antes do mais, por não ser um método eficaz, pois "se não resolve o problema dos inúmeros locais contaminados com resíduos industriais (solos e águas) cria outros problemas, tão ou mais graves, como o lançamento para a atmosfera de dioxinas, furanos e metais pesados cuja dispersão é sempre difícil de prever quanto mais controlar".
Entre os múltiplos perigos associados a este processo, "Os Verdes" denunciam que estão em causa substâncias associadas à origem de problemas cancerígenos e mal formações genéticas.
A outra face da fraude é que, mesmo segundo os números do Ministério do Ambiente, "para a co-incineração vão seguir 5% dos resíduos industriais produzidos anualmente, nos quais estão incluídos 12% dos resíduos tóxico-perigosos. Ou seja, a co-incineração está longe de resolver o problema ambiental e de saúde pública causado pelos resíduos industriais".
«Avante!» Nº 1301 - 5.Novembro.1998