Israel
300.000 pela paz



A praça Yitzhak Rabin, em Telavive, foi palco no sábado de uma impressionante manifestação em defesa da paz. Uma multidão estimada em cerca de 300.000 pessoas saiu à rua para assinalar o terceiro aniversário do assassinato do antigo primeiro-ministro trabalhista e homenagear o seu contributo para uma solução pacífica para o Médio Oriente.

Rabin, que assinou em Washington, em Setembro de 1993, um acordo com o dirigente palestiniano Yasser Arafat baseado na troca de terra pela paz, foi morto por um extremista israelita durante uma manifestação «pela paz e contra a violência», organizada justamente para denunciar os detractores do processo de paz.
A chegada ao poder de Benyamin Netanyahu traduziu-se num retrocesso no penoso caminho para a coexistência pacífica entre árabes e israelitas, mas as aspirações de paz de ambos os lados não deixou de se fortalecer. «Nós protegeremos a paz» foi uma palavra de ordem que os manifestantes não se cansaram de repetir, enquanto um écran gigante transmitia o célebre aperto de mão entre Rabin e Arafat, na Casa Branca.
Falando à multidão, o líder do Partido Trabalhista, Ehud Barak, lembrou que «o caminho encetado por Yitzhak Rabin acabou por singrar, porque não há outra alternativa», congratulando-se pelo facto de o actual governo ter assinado o acordo de Wye Plantation, que os trabalhistas se propõem apoiar no parlamento. Por seu lado, o ministro da Defesa, Yitzhak Mordehaï, do Likoud, garantiu que «as três balas que atingiram Yitzhak Rabin não matarão a herança que ele nos legou para o reforço da segurança de Israel e o avanço do processo de paz».
Diferente foi a posição assumida por Netanyahu. Falando na televisão na mesma altura em que decorria a manifestação, o primeiro-ministro israelita afirmou que o seu governo não está disposto a seguir «o caminho traçado pelos trabalhistas no quadro do acordo de Oslo, porque é um mau acordo», sublinhando «tudo ter feito em Wye Plantation para reparar os danos que ele causou». Netanyahu, tal como os extremistas, acusa Rabin de ter prometido aos palestinianos a entrega de mais de 90 por cento da Cisjordânia ocupada por Israel, o que os trabalhistas desmentem. O primeiro-ministro israelita garante que foram os seus dotes de negociador que travaram as «pretenções desmedidas» de Yasser Arafat.

Aplauso e expectativa

As reacções de israelitas e palestianos ao acordo de Wye Plantation - que prevê nomeadamente a transferência de 13 por cento de territórios ocupados por Israel na Cisjordânia para o controlo da Autoridade Nacional Palestiniana, um plano de luta antiterrorista por parte dos palestinianos, e a libertação, por Israel, de 750 de três mil palestinianos presos em cadeias e acampamentos militares israelitas - não divergem: os extremistas de ambos os lados consideram-no uma «traição», enquanto a maioria o apoia.
Segundo uma sondagem publicada pelo «Yediot Aharonot», 74 por cento da população israelita aprova o acordo; do lado palestiniano, a maioria, embora favorável à paz, mostra-se no entanto menos entusiasmada, preferindo esperar pela sua efectiva implementação, designadamente no que respeita à retirada de Israel de 13 por cento das terras ocupadas da Cisjordânia. Optimista parece estar a secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright, que fez saber que as negociações sobre o estatuto final dos territórios palestinianos começarão nos próximos dias, e que o presidente Clinton pretende estar presente na reunião das instâncias palestinianas que, em meados de Dezembro, vão proceder à revisão da Carta da OLP.
Igualmente confiante se afirma Yasser Arafat, para quem a aplicação do acordo permitirá «encarar o futuro com esperança e preparar uma terceira retirada (dos colonos israelitas), o lançamento de negociações sobre o estatuto final e o fim das medidas unilaterais». Segundo afirmou o dirigente palestinano a semana passada em Viena, o Estado palestiniano «virá em breve, como está previsto no acordo de Oslo. O prazo foi fixado em 4 de Maio de 1999. Nesse momento, teremos o direito de proclamar um Estado independente».
Resta saber se as provocações dos extremistas, como é exemplo o atentado suicida do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), quinta-feira passada, que provocou a morte de um soldado israelita, ou as ameaças dos colonos israelitas, contrários a qualquer acordo com os palestinianos, não virão a ser aproveitadas pelo governo de Netanyahu, como no passado recente, para protelar uma vez mais o processo de paz.
«Avante!» Nº 1301 - 5.Novembro.1998