Liberdade para
os dirigentes encarcerados
do Herri Batasuna

por Urbano Tavares Rodrigues



Neste momento em que em todo o mundo se voltam olhares de simpatia para o País Basco e para a legítima aspiração do seu povo à independência, é-me grato verificar como em Portugal múltiplas vozes fazem eco a esse sentimento. O encontro de Lizarra aproximando as várias forças independentistas e, logo após, o abandono da luta armada pela ETA abriram caminho a uma nova visão do problema basco e sensibilizaram a opinião pública em Espanha e no estrangeiro para a compreensão, para a busca de soluções.
As eleições autonómicas foram expressivas demonstrações do enorme peso não só do Partido Nacionalista Basco como da esquerda aberta de nos rumos novos da sua Pátria, aquela que ainda hoje conserva a única língua anterior à romanização da Península, o euskarra, falada provavelmente pelos antigos povos camíticos que a habitaram.
Surgiram entretanto ideias, que vão ganhando amplitude, como a da possibilidade de uma confederação futura de nações independentes ibéricas, que, além da Espanha, abrangeria a Catalunha, a Galiza e o País Basco.
Neste clima de alegrias e incertezas, esperanças e projectos diversos, com as cidades bascas em efervescência pacífica e muita da juventude exigindo novos passos do governo central espanhol que venham de algum modo ao encontro da atitude da ETA pondo termo à violência de uma guerra civil cruenta, há um gesto de reconciliação que se impõe e que vem decerto ao espírito de muita gente.
Refiro-me à libertação dos membros da mesa (direcção) do histórico partido de esquerda basco Herri Batasuna, que há oito meses cumprem a pena de sete anos que lhes foi imposta num julgamento iníquo e escandaloso (é-o mesmo dentro das fronteiras de Espanha), dada a fragilidade das provas apresentadas e a própria natureza da acusação: a intenção que o Herri Batasuna tinha de apresentar publicamente, durante uma campanha eleitoral, um vídeo da ETA, que continha uma proposta de paz conducente à autodeterminação.
Os acusados, que ora sofrem as duras condições do cárcere, são idealistas generosos, deputados, autarcas, políticos, personalidades que podem ter um papel importante nas negociações indispensáveis para a tranquilidade, a prosperidade, a realização do povo basco e não devem continuar enclausurados.
Que estas palavras sejam repetidas e ouvidas em Euskalerria e em Madrid e que possam ter algum efeito, que alertem a consciência mundial, é o voto que faço ao terminar esta breve nota, este apelo à solidariedade e à justiça, aos homens de boa vontade.
«Avante!» Nº 1301 - 5.Novembro.1998