«Flashes» da campanha



· 1º tempo de antena do PSD
Marcelo Rebelo de Sousa cita um texto de Miguel Torga contra a regionalização. Como Torga, ao tempo, nem sequer conhecia «esta regionalização», é óbvio que as suas duras palavras são contra todo e qualquer modelo de regionalização. De seguida, MRS repete duas ou três vezes que é contra «esta» regionalização, o que quer dizer que é por outra, ainda que nunca explique qual é. Mas se é por outra, então tudo o que Torga escreveu e Marcelo usou também se aplica à misteriosa regionalização que Marcelo insinua defender. Mas então porque instrumentaliza as palavras de Torga? Apenas por que, para a direita, vale tudo até tirar olhos.

· Debate sobre o Alentejo na RTP/1
Miguel Sousa Tavares avisa que as regiões vão querer captar investimento e, por isso, vão começar a conceder isenções fiscais. E lembra que, na Madeira, estão a correr inquéritos precisamente por ali terem sido concedidas indevidamente isenções fiscais de muitas dezenas de milhões de contos. Não tem emenda este personagem da campanha do «não»: primeiro, inventa a criação de impostos que não pode haver e, de seguida, inventa as isenções de impostos que, não havendo criação de impostos, as regiões evidentemente também não podem conceder.. E mais uma vez, quando não é o exemplo das autonomias de Espanha, é o das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores que, como ele está farto de saber, não têm nada que ver com as regiões administrativas propostas para o Continente.

· Tempo de antena de um qualquer «movimento cívico» PPx5
um interveniente declara, sem se desmanchar, que não quer correr o risco de ter regiões só com «poderes consultivos». Antes e depois, seguem-se no mesmo tempo de antena, outros depoimentos assentes na ideia contrária de que as regiões terão imensos e maléficos poderes ao ponto de «dividirem» e «retalharem» o nosso querido Portugal. Pessoas sensatas diriam que esta convivência televisiva não faz sentido. A campanha do «não» dirá antes que dá muito jeito.

· A «mega-sondagem» por acumulação
No limiar do fim do prazo para a publicação de sondagens, a RTP, a Antena Um e o «Público» tocaram trombetas com a sua «mega-sondagem» ( por sinal, a que dava a maior vantagem ao «não» ) com «13 mil inquiridos». A maior parte dos ouvintes, telespectadores e leitores ficou a pensar que seria uma sondagem nova e recente, se não mesmo o «must» de todas elas. E só os poucos leitores que se tiverem dado ao trabalho de lerem a ficha técnica, é que perceberam que a «mega-sondagem» é afinal a soma nacional das oito sondagens regionais que foram feitas ao longo de quase duas semanas e que já tinham sido publicadas. Como uma manchete é cem vezes mais lida que uma ficha técnica, estamos conversados sobre o que se queria.

· Folheto de campanha do PSD (I)
o PSD volta à carga e avisa que «o modelo das oito regiões PS-PCP iria criar cerca de mais 450 cargos políticos». Não vale a pena voltar a desmistificar a associação que assim mais uma vez se quer estabelecer com a linha dos «tachos». Mas talvez valha dizer que as propostas de Marcelo Rebelo de Sousa para «dividir» e «retalhar» o país em 8-Áreas Metropolitanas-8 (criando seis novas) e para criar um Conselho Directivo em cada distrito poderiam significar criar mais de 500 novos «cargos políticos» !

· Folheto de campanha do PSD (II)
Lê-se e só se acredita porque já se viu muita coisa nesta vida. Com efeito, neste folheto, escreve-se que «com esta regionalização favorece-se o aparecimento de partidos políticos regionais». O folheto esqueceu-se de contar aos portugueses que foi o PSD, na última revisão constitucional, que - para «possibilitar a criação de partidos regionais» (sic!)- propôs, sem êxito, que acabasse a actual proibição constitucional da existência de partidos regionais. E se o PSD agora se dá ao trabalho de advertir contra o perigo futuro das suas próprias propostas, então é muito simples: como não há alterações à Constituição sem o voto do PSD, o PSD deste folheto que diga ao PSD da última revisão da Constituição que o verdadeiro PSD nunca dará os seus votos para permitir a autorização constitucional de partidos regionais.
«Avante!» Nº 1301 - 5.Novembro.1998