Por uma política de esquerda
"A necessidade de uma rápida
intensificação da acção e iniciativa do Partido e das suas
organizações em torno dos problemas que mais preocupam os
portugueses e mais afectam a sociedade portuguesa" -
incisivamente acentuada pelo Comité Central do PCP na sua
reunião do passado fim de semana - é uma orientação que se
reveste de decisiva importância.
Com efeito, a eficaz concretização desta linha de trabalho,
conduzindo inevitavelmente a um reforço do Partido, é
condição indispensável para tornar mais forte a oposição de
esquerda à política e ao governo do PS; para aumentar a
influência social, eleitoral e política do PCP; para lançar
sólidas bases de uma alternativa de esquerda à política
praticada pelo PS com o apoio ou a conivência do PSD e do PP. A
realidade, visível nas consequências negativas, em muitos casos
dramáticas, da política de direita para a maioria dos
portugueses, mostra todos os dias a necessidade da congregação
de forças e esforços de todos os que entendem a necessidade de
mudança, de todos os que são vitimados pela política do
governo do PS - e isso passa, obviamente, pela crescente
intervenção e empenhamento dos comunistas nas grandes batalhas
do futuro imediato.
A última semana foi fértil em práticas e
ocorrências que pôem a nu a "maneira de estar na
polÌtica" e os objectivos fundamentais dos partidos que
constituem o sustentáculo da política de direita.
As frenéticas e hilariantes exibições de
"oposicionismo" protagonizadas por Marcelo Rebelo de
Sousa e por Paulo Portas - procurando esconder a sua
concordância com a essência da política do governo e
apresentar-se como alternativa a essa política - são exemplos
perfeitos do conceito histriónico de prática e intervenção
política adoptado pelos líderes do PSD e do PP. E se alguma
utilidade têm as palhaçadas da mediática parelha, é a de
mostrarem a quem é que eles se estão a referir quando dizem o
que dizem sobre "os partidos", "os
políticos", "a política".
A intervenção de Paulo Portas no decorrer do espectáculo
deprimente que foi a comemoração do aniversário da velhíssima
"Juventude Popular", se é certo que pode ser
atribuída, parcialmente, ao ambiente em que foi produzida...
não deixa de ser elucidativa da hipocrisia, da insolência, da
desfaçatez, da reaccionarice que percorrem o discurso da
salazarenta personagem. E há que reconhecer que o Chefe do PP
tem a mocidade PP que merece - e vice-versa.
E que dizer da sua "exigência" de 15 milhões de
contos para aumentar as pensões na base do argumento de que
"se havia essa verba para a regionalização tem de haver
essa verba para aumentar as pensões"?. Demagogia barata?:
sem dúvida. Mas não só: a prática e o discurso de Portas
contêm todos os condimentos que ao longo da história têm
cozinhado sucessivos "caudilhos". E é isso,
porventura, que explica o carinho, o desvelo, o enlevo com que a
comunicação social dominante o acompanha e reproduz e divulga
tudo o que ele quer que se saiba que disse...
Espectacular foi, igualmente, a prestação
de Marcelo Rebelo de Sousa no Congresso dos TSD. Afirmando a sua
profunda preocupação "com o egoismo neo-liberal" que
faz com que "ao aumento da riqueza produzida não tenha
correspondido uma diminuição da pobreza", o líder do PSD
está, de facto, a divertir-se com a pobreza. Mas não se ficou
por aqui: de social inflamado e, presume-se, de lágrimas nos
olhos, gemeu que "um em cada três portugueses é
pobre" e que "a riqueza nacional está mal
distribuída". Por tudo isto, proclama este intrépido
defensor dos explorados, "é preciso baixar os impostos à
classe média e aos mais pobres". E disse tudo isto sem
sequer sorrir, bem pelo contrário, com ar reivindicativo,
crítico e irritado - com o ar de quem passou uma vida a lutar
pelos humilhados e ofendidos...
Marcelo e Portas só pensam nas eleições do póximo ano e é
certo e sabido que daqui até lá vão repetir, refinando-os, o
discurso, o método , a prática que utilizaram na recente
campanha do referendo. É certo que se a desvergonha, a
hipocrisia, a demagogia e o ridículo pagassem imposto, ficariam
ambos na miséria. Mas, não tenhamos dúvidas, estas são as
suas armas e é com elas que continuarão a disparar.
Entretanto, o PS prossegue diligentemente e em ritmo acelerado as orientações e políticas económicas e sociais características da sua bem amada política de direita: cumpre com a máxima fidelidade - e, diga-se em abono da verdade, com visível prazer - as directrizes traçadas pelos patrões da União Europeia, do FMI e de outras instâncias internacionais; e passará a dispor do Orçamento de Estado que melhor serve todos os seus objectivos essenciais e que, por isso mesmo, tem como preocupações básicas o cumprimento dos constrangimentos ditados pela moeda única e pelo "Pacto de Estabilidade", o prosseguimento do escandaloso processo de privatizações, as fortes restrições aos aumentos salariais, os privilégios fiscais aos rendimentos de capitais, às empresas e operações financeiras e aos grupos económicos - um Orçamento de Estado que, de positivo, pode dizer-se que apenas conterá as propostas feitas pelo Grupo Parlamentar do PCP (as que forem aceites, obviamente...). Para além disso, ou complementarmente, tenta aprovar um pacote laboral que contém matéria altamente lesiva dos interesses e direitos dos trabalhadores. Enfim, o governo do PS persiste e insiste na aplicação de uma política com marcado conteúdo de classe, claramente favorável aos interesses do grande capital e claramente contrária aos interesses de quem trabalha e vive do seu trabalho.
Neste contexto, o PCP destaca-se não só como a oposição de esquerda mas como a única oposição, de facto, à política de direita. Daí a importância decisiva do seu reforço organizativo de forma a tornar maior e mais eficaz a força de que dispõe; do seu papel na dinamização da luta social, nomeadamente da luta contra o sinistro pacote laboral; do aumento da sua influência. São estes os caminhos que conduzirão à afirmação na sociedade portuguesa da necessidade de construção de uma alternativa de esquerda à política de direita que PS, PSD e PP pretendem prosseguir.