Contra o pacote
laboral
AR não
pode ignorar
1500 pareceres
A CGTP vai marcar presença em São Bento, quando o Parlamento discutir a proposta de lei sobre a generalização do trabalho a tempo parcial, a peça mais grave deste lote legislativo.
Ao longo de quase
três dezenas de páginas, a Comissão de Trabalho da Assembleia
da República elaborou a lista dos pareceres recebidos no quadro
da discussão pública da proposta de lei 202/VII. Aqui figuram,
com posição contrária à aprovação do diploma do Governo PS,
a CGTP, 15 uniões, 12 federações e 115 sindicatos. Mas o peso
maior vai para os pareceres de comissões sindicais de empresa
(561), plenários de trabalhadores (327), delegados sindicais
(167), comissões de trabalhadores (157) e comissões
intersindicais de empresa (39).
A muito grande participação dos trabalhadores e das suas
estruturas na discussão pública foi valorizada no Conselho
Nacional da CGTP. «O Parlamento não pode deixar de ter em conta
tão significativa demonstração da recusa daquele projecto»,
salienta-se numa resolução aprovada e divulgada dia 12, em
conferência de imprensa, por Carvalho da Silva. O coordenador da
central considerou «impensável» que os deputados dêem a sua
aprovação à proposta governamental sem o alterarem, o que
seria visto como «uma afronta».
Se a lei se ficar pela definição das grandes linhas de
enquadramento jurídico do trabalho a tempo parcial, o restante
será matéria para a negociação colectiva, a nível de
empresas e sectores concretos, defende a CGTP.
Ao divulgar as conclusões do Conselho Nacional, Carvalho da
Silva apontou como prioridade o combate ao projecto sobre
trabalho a tempo parcial e a denúncia dos objectivos do
patronato e do Governo quando pretendem alterar o conceito de
retribuição, o regime de férias e o limite dos contratos a
prazo sucessivos. Realçou ainda, refere a Agência Lusa, a
importância da luta reivindicativa em defesa da Segurança
Social, contra as privatizações, por uma mais justa política
fiscal e pela redução gradual dos horários para o máximo de
35 horas.
Quanto aos aumentos salariais, a Intersindical Nacional insiste
em que, para além do valor da inflação (que no Orçamento de
Estado para 1999 fica aquém das previsões da UE), devem ter em
linha de conta o crescimento do Produto Interno Bruto (4,2 por
cento) e da produtividade (3 por cento).
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Tempo parcial à solta na Brisa
A concessionária
das auto-estradas «está a enveredar pela prática de trabalho a
tempo parcial, sem regra nem justificação, numa aplicação
antecipada da péssima proposta de lei do Governo», afirma a
comissão intersindical da Brisa, num comunicado que distribuiu
após a sua reunião, na semana passada, em Coimbra.
A denúncia foi feita a propósito da forma como a empresa está
a reagir à obrigação de integrar nos seus quadros o pessoal
contratado através da Psicoemprego. «A Brisa, primeiro,
resistiu para além daquilo que devia, inventou dificuldades à
integração dos trabalhadores e agora está a propor condições
e horários, pela sua pequena duração, inaceitáveis para os
trabalhadores, com o objectivo de dificultar a regularização de
uma questão social que deveria merecer maior e melhor
tratamento», comenta a comissão intersindical.
Na proposta de revisão do Acordo de Empresa para 1999, aprovada
na reunião de dia 10, é precisamente avançado, pela primeira
vez, um quadro regulamentador do trabalho a tempo parcial. Entre
as matérias que os representantes dos trabalhadores querem ver
melhoradas figuram ainda o sistema de promoções e carreiras
profissionais, a organização dos horários de trabalho e os
critérios de avaliação de desempenho.
Reafirmando a sua posição contra a alienação de mais uma fatia do capital social da Brisa (perdendo o Estado a maioria), a estrutura intersindical da empresa expressa a «profunda preocupação» dos trabalhadores, pois os outros processos de privatização acarretaram «despedimentos, redução de direitos, precariedade, insegurança e instabilidade laboral, para aumentar os lucros dos novos proprietários». A comissão salienta os elevados lucros obtidos em 1997 e que, segundo todas as previsões, serão ultrapassados em 1998, salientando que «nada justifica a privatização, excepto uma deliberada vontade política de transferir para a iniciativa privada tudo quanto é público, tem valor e dá lucro».