Cuba: 1959-1999
Cerca das quatro horas da madrugada do dia 1 de Janeiro de 1959, num aeroporto dos arredores de Havana, o ditador Fulgêncio Baptista iniciava uma fuga que viria a terminar em Portugal, nos braços amigos de Salazar. Sete meses antes, Baptista anunciara ao Mundo uma operação militar que, segundo os seus cálculos, liquidaria, em meia dúzia de dias, os guerrilheiros da Sierra Maestra: dez mil soldados superiormente armados são enviados para Las Mercedes, a posição mais avançada dos revolucionários comandados por Fidel Castro, onde se lhes depara um grupo de guerrilheiros que não dispunha de mais de duzentas espingardas... «Nos dois meses e meio de duras batalhas, o inimigo perdeu mais de mil homens, entre mortos, feridos, prisioneiros e desertores. Deixou nas nossas mãos seiscentas armas, entre as quais um tanque, doze morteiros» (...) «e um sem número de armas automáticas» - conta o Che, que acrescenta terem os revolucionários sofrido cinquenta baixas e incorporado, nesse período, seiscentos voluntários.
Sustida a ofensiva, Fidel toma aquela que foi considerada «a mais brilhante das suas decisões militares»: passa imediatamente ao ataque. E cerca de quatro meses depois, precisamente na noite da passagem do ano, os revolucionários entram em Havana e derrubam a ditadura de Baptista.
«O triunfo da revolução cubana e o empreendimento da construção de uma sociedade nova, mais justa, mais humana e mais fraterna, constitui um acontecimento histórico de grande significado que influenciou e influencia positivamente a luta libertadora dos trabalhadores e dos povos da América Latina e todo o mundo» - acentua, pertinentemente, a saudação enviada pelo Comité Central do PCP ao Comité Central do Partido Comunista de Cuba neste 40º aniversário da revolução cubana. Com efeito, a revolução cubana é um acto incontornàvel não só na História de Cuba mas igualmente na História da América Latina. Para o povo cubano, a noite da passagem do ano de 1958 para 1959 marca uma clara linha divisória entre o passado e o futuro, um nítido «antes» e «depois», o início de um percurso heróico pleno de notáveis realizações sociais e culturais. Para os povos da América Latina, a revolução cubana foi o exemplo, a demonstração concreta de que era possível materializar o sonho de libertação da pata imperialista e iniciar a construção de uma sociedade nova, sem exploradores nem explorados.
No sombrio cenário da nova ordem que hoje
domina o Mundo uma nova ordem de cariz totalitário e
ostensivamente liderada pelo imperialismo norte americano
a existência de um país que assume a sua soberania e persiste
em ser dono do seu destino, é um exemplo subversivo, perigoso,
inaceitável. Pior ainda se esse destino comporta o sonho
generoso de construir uma sociedade situada nos antípodas da
sociedade capitalista uma sociedade nova, justa, fraterna,
solidária. E se, para cúmulo, esse país não só recusa
integrar o rebanho servil da vontade imperial como ousa
contestá-la e fazer-lhe frente, então a situação atinge o
grau máximo de gravidade, torna-se intolerável.
E nessas circunstâncias o Império responde da única forma que
conhece.
O povo de Cuba resiste há 40 anos
às agressões, às invasões, aos ataques, às provocações do
gigante imperialista. Resiste com êxito ao desumano bloqueio
económico, ao isolamento político a que o imperialismo norte
americano tem tentado remetê-lo. E fá-lo com coragem, dignidade
e patriotismo exemplares e na inteira fidelidade a princípios e
valores essenciais sabendo que essa postura vertical tem
custos pesados e assumindo frontalmente o sacrifício e a
determinação de os pagar.
É desta prática revolucionária na última década
levada a cabo nesse quadro particularmente desfavorável no plano
internacional e, também por isso, mostrando que, seja em que
situação for, a luta é necessária e vale a pena que
decorre o amplo movimento de solidariedade com o povo de Cuba e a
sua revolução, englobando milhões de homens, mulheres e jovens
de todo o Mundo; que decorre essa actividade solidária e
fraterna que dá mais força à luta solidária e fraterna do
heróico povo cubano.
Foram grandes as expectativas geradas pela
revolução cubana, logo a partir de Janeiro de 1959, nos povos
da América Latina e no Mundo. E não foram em vão. Nestes
quarenta anos de vida, a Revolução confirmou a força dos
valores humanos que sustentam o projecto de uma sociedade
socialista, confirmou o socialismo como a única alternativa à
opressão e à exploração capitalista. A circunstância de tal
exemplo ser protagonizado por um pequeno país situado a uma
escassa centena de quilómetros do gigante imperialista,
confere-lhe uma relevância e uma dimensão histórica
iniludíveis.
Há uns anos atrás, um destacado dirigente do Partido Comunista
e do Governo de Cuba, fazendo um balanço de como a revolução
correspondeu às expectativas dos povos latino americanos, dizia:
«O facto de o pequeno David se impor novamente ao gigantesco
Golias mostra aos povos da América Latina e do Caribe que
nenhuma luta, por mais desigual que pareça, está condenada à
derrota; e que o dever de cada revolucionário é, como assinalou
a histórica Declaração de Havana, fazer a Revolução»
Simples. Como a água que corre.