Festru/CGTP-IN
exige resultados da Inspecção
Motoristas
trabalham 15 horas por dia
Nunca se viu uma tão grande degradação nos transportes rodoviários de mercadorias, tanto no que respeita ao cumprimento da lei geral do trabalho e da contratação colectiva, como no que toca às normas da União Europeia, denuncia a federação sindical do sector, numa exposição enviada ao Inspector Geral do Trabalho.
A Festru destaca, do
rol de violações praticadas pelo patronato, as que têm a ver
com o horário de trabalho (tempos máximos de condução e
períodos mínimos de repouso) e com a remuneração dos
trabalhadores, e que «põem em causa direitos fundamentais, como
a segurança rodoviária».
Na exposição que enviou ao responsável nacional da IGT, a
Federação dos Sindicatos dos Transportes Rodoviários e Urbanos
refere que «um inquérito, recentemente realizado pelos
sindicatos da Festru, confirmou aquilo que já temíamos, ou
seja, a média horária por motorista situa-se nas 15 horas de
trabalho diário». «Está provado que um motorista, ao fim
de sete horas de condução, já não está na posse de todas as
faculdades físicas e mentais», salienta a federação,
acrescentando que «simultaneamente, constatou-se que os
motoristas descansam cerca de cinco horas, em média, por
dia, havendo muitos motoristas que chegam a estar dois e três
dias seguidos sem irem à cama».
Lembrando que já várias vezes as estruturas sindicais têm
denunciado publicamente os constantes exageros a que estão
sujeitos os motoristas no que se refere à intensíssima carga
horária de trabalho, a Festru aponta a responsabilidade ao
patronato, «cuja ânsia de lucro faz relegar para o último dos
planos as questões sociais e as normas disciplinadoras da
actividade, por um lado, enquanto por outro se procura maximizar,
em cada dia de trabalho, o rendimento da viatura e do
motorista».
«A ideia que ressalta, aos olhos da opinião pública, da
manutenção desta iníqua e insustentável situação, é a de
que, para o patronato, vale a pena violar leis, regras e
normas», comenta a Festru. «Esse vergonhoso tipo de
comportamento não só é pelo Governo tolerado como, em muitos
casos, premiado com subsídios chorudos que vão parar
directamente ao bolso do prevaricador», protesta a federação,
lembrando que «infelizmente, existem exemplos trágicos do que
pode acontecer quando a fadiga se apodera do condutor».
O aumento da jornada de trabalho decorre ainda de «acordos
salariais paralelos, tendo por base o pagamento ao quilómetro
e ao frete». Segundo cálculos da Festru, estes sistemas de
remuneração podem significar, numa empresa de média dimensão,
um benefício anual de dezenas de milhares de contos
para o patrão, pois «o ganho médio mensal, retirado pelo
patronato aos salários dos trabalhadores, cifra-se na ordem dos
cem mil escudos por motorista».
A Festru expressa a «convicção de que o reduzido número de
acções de fiscalização nas estradas e nas empresas do sector,
por parte da Inspecção do Trabalho, tem ajudado e contribuído
para o alastramento destes autênticos crimes sociais», pelo que
é «fundamental e urgente que a Inspecção do Trabalho passe a
actue com a frequência e a firmeza necessárias».
«É tempo de pôr o patronato a cumprir com as leis deste país,
nomeadamente com o respectivo CCTV em vigor, democrática e
livremente negociado e acordo pela Festru e pela associação
patronal», exige a federação, que fica a aguardar da IGT
informação sobre «a implementação da nova filosofia de
trabalho levada a cabo por essa instituição, passando a actuar
regularmente neste importante sector, para que finalmente comecem
a surgir resultados positivos».