«No Barreiro, não!»
Mais protestos contra lixos tóxicos


Um autocolante a desejar boas-festas, com as palavras de ordem «No Barreiro, não!», foi distribuída nesta quadra entre a população. Uma forma de protesto que assume particular actualidade face à decisão da ministra do Ambiente, que envolve o Barreiro e Estarreja, menosprezando assim uma vontade das populações inequivocamente expressa em grandes acções de luta.

O autocolante de boas-festas, iniciativa do movimento Barreiro Anti-Resíduos (BAR), dá assim continuidade ao movimento de protesto contra a instalação no concelho de uma estação de tratamento de resíduos industriais perigosos.
De lembrar aqui as manifestações que mobilizaram milhares de pessoas no Barreiro e as tomadas de posição da Assembleia Municipal de Estarreja que, por duas vezes e por unanimidade, recusou a hipótese de instalação da instalação de co-incineração de resíduos industrias no concelho.
Na perspectiva da divulgação da decisão governamental sobre o local de implantação de um sistema de co-incineração de resíduos industriais, os protestos não foram interrompidos com as festas.

A Assembleia Municipal de Santiago do Cacém, em reunião de 18 de Dezembro, e considerando a possibilidade de utilização da cimenteira do Outão para queima de resíduos tóxicos, deliberou, por unanimidade, manifestar a sua preocupação com os riscos associados a este projecto, nomeadamente os relacionados com a saúde pública e os projectos de desenvolvimento do litoral alentejano, salientar a importância da melhoria da qualidade do ambiente e alertar para a forma como o processo tem vindo a ser conduzido, sem a participação das populações e dos seus representantes mais próximos.

Em Coimbra, em vésperas de Natal, a posição assumida pela Câmara Municipal contra a instalação de tal sistema em Souselas, foi enviada, por carta, à ministra do Ambiente, ao presidente do instituto de Promoção Ambiental e ao presidente da Comissão Avaliadora do estudo de impacto ambiental.
O documento sublinha que, «atendendo a que todas as tomadas de posição recebidas na Câmara Municipal no âmbito do processo de consulta pública se expressaram contra a incineração de resíduos tóxicos industriais em Souselas», a autarquia discorda da eventual escolha daquela cimenteira da Cimpor.
Entre as razões apontadas para esta posição, refere-se nomeadamente o facto de Coimbra «estar desprovida de indústrias e consequentemente não ser um produtor de resíduos tóxicos desta natureza» e dá-se igualmente destaque à inexistência de um estudo global que apresente medidas que assegurem a redução e reutilização de resíduos industriais, «o que permite encarar a possibilidade do respectivo aumento da produção no país.»
A Associação de Defesa do Ambiente de Souselas (ADAS) afirma, por seu lado, que a cidade de Coimbra iria sofrer tanto como a freguesia de Souselas caso seja instalado nesta povoação o sistema de co-incineração de resíduos pois, durante a maior parte do ano, «os ventos dominantes do Norte e Noroeste podem transportar para Coimbra os elementos emanados para a atmosfera» no processo de incineração.


«Avante!» Nº 1309 - 30.Dezembro.1998