Iraque
O outro lado
da
guerra cirúrgica


«Se não for uma criança sem cérebro, então talvez seja uma com um crânio gigante, com cotos em vez de braços, como as vítimas da talidomida, com dois dedos em vez de cinco, um coração com válvulas a menos, sem uma ou mesmo as duas orelhas». A descrição, aterradora, é de uma genocologista do Hospital Pediátrico Saddam Hussein, citada pelo jornal britânico «The Guardian», que a semana passada revelou um estudo sobre o aumento inexplicável do número de recém-nascidos com deficiências no Iraque. Segundo o jornal «a origem mais provável desta força manipuladora dos genes não é iraquiana, mas ocidental».

Revela o «The Guardian» que durante a guerra do Golfo, em 1991 - a tal dos bombardeamentos cirúrgicos - os aviões ocidentais dispararam pelo menos um milhão de balas revestidas com um material radioactivo conhecido como urânio empobrecido (DU). Este material, com uma vida semi-activa estimada em 4000 anos, é não só capaz de atravessar tanques com a maior facilidade como, ao ser utilizado no revestimento de balas, fragmentar-se em milhares de partículas quando elas atingem o alvo. Partículas radioactivas que se espalham na atmosfera e são facilmente absovidas pelos seres humanos, podendo passar da placenta para o feto.

De acordo com informações do Departamento da Defesa norte-americano, citado pelo jornal, o Iraque foi bombardeado com pelo menos 40 toneladas de DU.

«O Iraque transformou-se no laboratório de um material desconhecido e não testado: o DU», escreve o «Guardian».

Sete anos depois, e quando a ciência ainda não encontrou resposta para o que está a acontecer com os recém-nascidos no Iraque, o país voltou a ser bombardeado com mais de 400 novos mísseis. Novas experiências cirúrgicas? E quem responde pelas consequências?


«Avante!» Nº 1309 - 30.Dezembro.1998