Defesa
Nacional e Forças Armadas
O
Governo do leasing
Pretendeu o Governo, no âmbito do Orçamento de Estado, a aprovação de um artigo que o autorizasse a adquirir submarinos em sistema leasing. Esta pretensão foi chumbada pela Assembleia da Républica. Mas o problema não está encerrado, como foi, aliás, já anunciado pelo Governo. Este irá propor uma alteração à Lei-Quadro da Programação Militar que lhe permita avançar com tal intento.
O argumentário
governamental é o de que os critérios de convergência não
permitem o reforço de verbas; que outros países (o Canadá)
também utilizam este método para aquisição de equipamento e
um outro sem número de justificações de ordem jurídica no que
respeita a contratos de locação e salvaguardas para o Estado.
Isto é, o Governo chuta para canto o essencial e pretende
entreter, quem o ouve, em torno do acessório.
E o essencial é que o Governo avança precipitadamente para a
aquisição de submarinos, mas não consegue justificar
credívelmente tal opção. O Governo ainda não convenceu
ninguém da urgente razão pela qual deve o Estado gastar, no
mínimo, 150 milhões de contos em submarinos. Já se sabe que os
existentes são virtuais. Mas também são virtuais os patrulhas
existentes e já são muito virtuais algumas das Corvetas.
Porque não apostar então no lançamento decidido destes
programas que, pelo mesmo custo, propiciam mais meios, permitindo
faseamento na sua aquisição e, permitem ainda, um forte
contributo da indústria nacional? Se o problema é o treino de
luta antisubmarina, faça-se protocolos com outras marinhas que
permitam a utilização dos seus meios submarinos, já para não
falar na aquisição de simuladores. E quando o Almirante Reis
Rodrigues, (Almirante Comandante do CINCIBERLANT) através de
declarações públicas, releva a aquisição de submarinos como
algo que, quando estiver concretizado, vai aumentar a qualidade
da nossa participação na STANAVFORLANT, o argumentário para
português vêr esvai-se como fumo. Isto é, o Governo não
refere as razões das reais urgências para a concretização do
objectivo submarinos, aliás, como fez no que aos F16 diz
respeito. Foi o General Espiríto Santo que, no programa
televisivo de Judite de Sousa, disse claramente que a sua
aquisição visava satisfazer compromissos externos de Portugal.
Posto isto, importa deixar claro que não estamos a dizer que
Portugal não deve ter submarinos. Nunca o dissemos e nem agora o
dizemos. Mas é evidente que para nós esta não só não é a
prioridade das prioridades como, quando o for terá de ter, como
razão indiscutível e praticada, o interesse nacional e não
"compromissos externos", expressão que significa NATO.
Mas outra questão essencial é a aquisição em leasing. E aqui
não se trata de saber como é juridicamente. A questão é
política! E a aquisição em leasing de equipamento para as
nossas Forças Armadas é o expoente máximo da política de
desresponsabilização do Estado, num vector estratégico do
mesmo. Nunca a pouca vergonha foi tão longe. A mesma pouca
vergonha que tem privatizado praticamente tudo aquilo que poderia
constituir instrumentos fundamentais do Estado para garantir o
desenvolvimento, mas também a defesa dos interesses nacionais.
A seguir aos submarinos, consumado que seja o objectivo do
Governo, novos e novos equipamentos se seguirão seguindo o mesmo
esquema. E até, porque não alugar a outros países 2 aviões
para o Exercício X e 1 navio para o bloqueio Y?!
Portugal não pode permitir-se deixar-se enredar ainda mais na
teia sem escrúpulos desta política de vassalagem a interesses
que comprometem o nosso futuro imediato e mais longínquo, mais
uma vez demonstrado nas posições assumidas pelo Governo,
relativamente ao selvagem ataque americano ao Iraque. Rui
Fernandes