Aveiro
1998
- ano negro para a agricultura
Fazendo o balanço a 1998, a Direcção da Organização Regional de Aveiro do PCP considera que ele foi um dos mais negros anos dos últimos tempos para os agricultores.
Acentuou-se a
diminuição da produção agrícola regional e nacional assim
como dos rendimentos dos que delas vivem, numa tendência que, em
consequência da adesão de Portugal ao Mercado Comum e das
políticas anti-lavoura dos Governos do PSD e do PS, subsiste há
mais de dez anos.
Ao contrário do que se passa com o preço dos produtos
necessários à actividade agrícola (sementes, adubos, rações,
combustíveis) - que têm subido -, continuam a baixar os preços
médios pagos à produção pelo leite, carne ou cereais. Esta
situação, associada à invasão do mercado nacional por
produtos estrangeiros - de qualidade duvidosa - tem levado ao
abandono da actividade, à desertificação rural de algumas
zonas do distrito e ao desaproveitamento das suas capacidade
humanas e naturais, indispensáveis ao desenvolvimento sustentado
da região de Aveiro.
Fruto ainda destas políticas, da concorrência desleal e da
quase ausência de apoios técnicos, também muitas estruturas do
sector cooperativo ameaçam falência, o que, a verificar-se,
significaria o desemprego de centenas de trabalhadores e a ruína
de muitos agricultores.
O sector de produção de leite e carne atravessa uma das suas
mais graves crises, sofrendo, para além dos baixos preços, os
efeitos cruzados do embargo às exportações de carne bovina,
injustamente decretado pela União Europeia, particularmente no
Baixo Vouga, e, no caso concreto dos suínos, os da inundação
do nosso mercado pelos excedentes comunitários.
Por outro lado, a rede pública de abate - cada vez mais afastada
da produção animal -, continua a degradar-se e a levar ao
crescente domínio dos grandes intermediários, não passando,
hoje, o sector de abate de um «mero sorvedouro de dinheiros
públicos e comunitários», sem reflexos positivos na produção
e no consumo. Quando, afinal, o que a pecuária do distrito
necessita é do efectivo aproveitamento das estruturas públicas
existentes, nomeadamente as da PEC-Lusa, e a sua reaproximação
aos produtores.
Porém, segundo o PCP, também outros sectores da produção,
como as culturas arvenses e hortículas e a vitivinicultura,
sentem dificuldades acrescidas, resultantes de sucessivos maus
anos agrícolas provocados pelas intempéries.
Ou seja, uma situação que está a conduzir à quase total
descapitalização da agricultura e da pecuária, onde é cada
vez mais difícil investir. Entretanto, as medidas de resposta a
esta crise são «manifestamente insuficientes e, em muitos
casos, desadequadas da realidade do distrito». Na opinião do
PCP, as ajudas e juros bonificados deveriam ser, na situação
actual, ajudas a fundo perdido.
De facto, a isenção de três meses no pagamento das
prestações para a Segurança Social não passam de «um mero
paliativo» e o fundo de calamidade para além de não cobrir a
realidade distrital (responde, por exemplo, a «eventuais
prejuízos na produção - inexistente - de vinho ou de pêra, na
Murtosa, mas não contempla as culturas forrageiras locais),
pressupõe a adesão prévia aos seguros de colheita, a que
muitos não recorrem por dificuldades financeiras ou,
precisamente, porque o seguro não cobre os riscos mais
prováveis.
A DORAV do PCP, juntando a sua à voz dos pequenos e médios
agricultores em defesa da produção nacional e da valorização
do mundo rural, apela à sua atenção e intervenção na fase
final da discussão da Reforma da PAC, integrada na Agenda 2000
da União Europeia, que se decide nos próximos meses.