CGTP faz o
balanço da contratação colectiva em 1998
Governo
esteve com os patrões
no ataque aos direitos e salários
A Comissão
Executiva da CGTP-IN, num documento divulgado no final do ano,
salienta que «um crescimento económico significativo»
verificado em 1998 não levou à alteração das políticas de
moderação dos salários. O processo de revisão da legislação
laboral, desencadeado pelo Governo, também teve «incidências
negativas muito profundas na negociação colectiva, porque
incentivou a intransigência patronal».
No ano findo, a negociação colectiva exerceu-se «num contexto complexo, em que se cruzaram diversos factores de natureza oposta», que a central analisa em quatro pontos:
«Um primeiro
aspecto, à partida favorável, é o de um crescimento económico
significativo. No entanto, não se alteraram as políticas de
moderação dos salários, o que dificultou a negociação
colectiva.
«Essas dificuldades foram exacerbadas por uma posição patronal
de ataque aos direitos contratuais, visando liquidar o direito de
contratação colectiva, o que foi conjugado com a existência de
um processo de revisão da legislação de trabalho,
com incidências negativas muito profundas na negociação
colectiva, porque incentivou a intransigência patronal.
«Um terceiro aspecto respeita a um ascenso de iniciativa
reivindicativa e de lutas, num quadro de crescente
disponibilidade e de mobilização dos trabalhadores». Como
«exemplos significativos» deste ascenso, a CGTP aponta «o
longo conflito nos sectores têxteis contra a eliminação das
pausas, que veio a ser resolvido por acordo em Fevereiro; as
greves nos principais hotéis no segundo trimestre, com
resultados salariais positivos; a greve dos motoristas de
transportes rodoviários de mercadorias perigosas, em Julho, da
qual resultaram importantes resultados, nomeadamente o prémio de
risco e o seguro por morte e invalidez.»
O ano de 1998 fica «também marcado por uma acentuação das
reivindicações ligadas ao tempo de trabalho, nas suas
múltiplas dimensões: duração semanal, horários de trabalho,
pausas, etc.», destacando-se, nesta área, «a luta pela
redução para as 40 horas sem perdas de direitos, quer a nível
geral, quer no plano da acção reivindicativa sectorial e de
empresa», e «a fixação pela CGTP-IN, em 1 de Outubro passado,
do objectivo da semana de 35 horas, a alcançar
progressivamente».
Malefícios
do pacote
O processo de
revisão de legislação de trabalho «incentivou o patronato a
não negociar e a introduzir novos factores de bloqueamento na
contratação colectiva e ainda a pressionar por novas
alterações da legislação», acusa a CGTP
No balanço da acção reivindicativa de 1998 a central faz
questão de reafirmar que os projectos de diplomas do pacote
laboral «visam regular matérias, em vários casos controversas,
que devem ser negociadas, nos sectores ou nas empresas», e
«contêm disposições gravosas que correspondem a pretensões
inaceitáveis do patronato, nomeadamente no emprego a tempo
parcial, no conceito de retribuição, nos contratos a prazo, no
regime de férias, no trabalho nocturno e noutras».
Durante o ano findo «manteve-se uma forte pressão patronal para
liquidar os direitos contratuais constantes das convenções
colectivas». Neste quadro, «a posição do Governo, de revisão
da legislação de trabalho e de apoio implícito, mas real, às
posições patronais, conduziu a que, em vários sectores, se
não tenha desbloqueado a contratação colectiva». A CGTP nota
que «esta situação é, por sua vez, explorada para pôr em
causa os direitos e a liberdade de negociação colectiva» e
denuncia a utilização do tema do «impasse na negociação
colectiva» «como arma com vista a criar condições para impor
regimes menos favoráveis através de legislação».
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Prioridades para 1999
Na acção reivindicativa que, aos vários níveis, as estruturas da CGTP vão desenvolver no corrente ano, a Comissão Executiva da central aponta como prioridades, «para além do emprego e do combate à precariedade»:
- o aumento significativo dos salários reais, por forma a que haja uma aproximação à média dos salários europeus, conforme a promessa do Governo;
- o aumento do salário mínimo para 62500$00;
- o prosseguimento da luta pela redução progressiva do horário de trabalho até às 35 horas semanais;
- o combate à sinistralidade laboral e a eleição dos representantes dos trabalhadores para as comissões de higiene e segurança no trabalho;
- e a valorização da contratação colectiva, «como sede privilegiada para regulamentar as condições de prestação de trabalho».