Angola
Confrontos alastram ao Norte


A província angolana de Malange é o novo alvo dos ataques da Unita, depois da cidade de Huambo e do Cuíto. A ONU já anunciou a retirada gradual de todo o seu pessoal das zonas de conflito, ao mesmo tempo que apela à cooperação das duas partes para facilitar o acesso às zonas de despenhamento dos aviões.

O número de vítimas dos ataques da Unita não pára de aumentar. A última contagem apontava para 220 mortos e quase 500 feridos só na cidade do Cuíto. A população civil é a principal visada. Mais de 98 mil pessoas abandonaram as suas terras de origem, agravando os problemas de escassez de alimentos e de acesso a água potável.
A artilharia da Unita bombardeia continuamente a cidade do Huambo, capital do planalto central, e a cidade do Cuíto, capital do Bié, evitando confrontos directos com o exército. Quatro localidades da província de Malange foram atacadas no domingo, mas as Forças Armadas, a polícia e a defesa civil conseguiram repelir as tropas de Jonas Savimbi.
Na província do Zaire, no norte de Angola, registaram-se também confrontos. «Temos vindo a assistir a grandes movimentos de forças e meios da Unita não só nesta província, como também nas de Uíge, Malange e Cuanza Norte, visando realizar acções militares que terão como alvo os principais objectivos económicos e estratégicos locais», referiu o comandante da Frente Militar Norte, general Marques Correia.
O presidente angolano comprometeu-se a dar «a devida resposta às agressões e acções de destabilização em curso» da autoria da Unita. «Sem recorrer ao estado de sítio ou de emergência, o governo vai adoptar medidas especiais para a gestão da crise político-militar», declarou José Eduardo dos Santos no discurso de ano novo.
«A incerteza, a desconfiança e a confusão instalaram-se de novo nos espíritos e corações de algumas pessoas por causa dos inimigos da paz», afirmou o presidente angolano, acrescentando que «essa opressão e violêcia extrema revelam a apetência doentia do dr. Jonas Savimbi pelo poder».
«Angola não voltará a aceitar pretensões do exterior no sentido de dar mais uma oportunidade aos mentirosos, que já provaram várias vezes serem incapazes de aceitar a diferença dentro de uma vivência pacífica e democrática», concluiu o presidente, citado pela agência Lusa.

ONU pressiona Unita

As Nações Unidas continuam a pressionar a Unita e o Governo no sentido de garantir a segurança dos seus funcionários deslocados para chegar ao local dos destroços dos dois aviões que se despenharam no território angolano. O último, um C-130 fretado pela Missão de Observação em Angola da ONU (MONUA), transportava quatro tripulantes e dez passageiros que se julga ainda estarem vivos.
O governo angolano acusa a Unita de ter abatido os dois aviões, argumentando que os desastres ocorreram em áreas sob o controlo de Savimbi. Entretanto o executivo respondeu favoravelmente ao pedido de ajuda das Nações Unidas, embora a hipótese do cessar-fogo de 48 horas requerido não se deva concretizar.
«Este tipo de trégua costuma servir para a reorganização de forças e o reabastecimento logístico por parte do inimigo. Nós sabemos isso e também a Unita, pelo que será difícil alguma das partes aceitar tal compromisso», afirmou um oficial à agência Lusa.
O Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade uma resolução a exigir à Unita que permita o deslocamento da sua equipa de salvamento, dando um prazo até à próxima segunda-feira. A partir dessa data serão tomadas «medidas» não especificadas contra o movimento.
Manifestando a sua «viva preocupação» com o aumento de desaparecimentos de aparelhos «enquanto sobrevoavam território controlado pela Unita», o Conselho de Segurança exige que Jonas Savimbi «responda imediatamente aos apelos das Nações Unidas e garanta todas as condições de segurança e as acções necessárias».

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Nova política económica para 1999

No discurso de ano novo, o presidente angolano anunciou a implementação de «políticas económicas mais eficazes» no país. Para isso já tiveram início consultas com vários sectores da sociedade.
«Queremos romper decididamente o círculo vicioso que se criou a nível da economia, para que se criem novas e melhores perspectivas para o futuro», declarou José Eduardo dos Santos, afirmando a intenção do seu governo se pôr fim a uma gestão «descoordenada, lenta e perdulária».
«O desempenho da nossa economia nos últimos anos não nos tem permitido resolver satisfatoriamente os problemas das populações», referiu o presidente. «A melhoria das condições de vida das populações não passa apenas pelo combate à inflação, sendo importante implementar também medidas conducentes ao aumento da oferta de produtos nacionais, uma forma de criar emprego e alargar o mercado interno. Não podemos melhorar a qualidade de vida dos cidadãos enquanto a economia de Angola estiver em recessão, em crise financeira e cambial e com uma produção interna em colapso», defendeu.
Para tal, o presidente prevê a contenção das despesas públicas como forma de evitar o descontrolo da inflação e a descida do já fraco poder de compra dos angolanos.
Para Eduardo dos Santos, a responsabilidade da situação económica do país cabe principalmente aos atrasos na implementação do processo de paz e às ofensivas da Unita.


«Avante!» Nº 1310 - 7.Janeiro.1999