A
TALHE DE FOICE
Os
únicos
A OCDE - Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico - vai realizar um Programa
Internacional para a Avaliação dos Estudantes (denominado PISA,
na sigla em inglês) com o objectivo de, pela primeira vez, se
apurar no início do milénio as competências dos alunos de 15
anos, ou seja, os que acabam a escolaridade obrigatória.
Trata-se de um trabalho de fundo há muito reclamado e que vai
envolver mais de 100 mil alunos de mais de quatro mil escolas em
40 países, entre os quais todos os 29 que são membros da OCDE.
Conforme relata o Público, o objectivo deste
grande inquérito assenta em algumas interrogações claras: «Estão
as escolas a preparar os estudantes para os desafios do futuro?
Será que eles são realmente preparados para serem os
trabalhadores de amanhã, para continuarem a aprender ao longo da
vida? São eles capazes de analisar, raciocinar e comunicar
ideias?».
Para obter respostas a estas questões, a OCDE organizou este
programa PISA (que, assinale-se, está a ser preparado desde
1997), onde espera produzir indicadores internacionais que «permitam
descrever padrões comparáveis de desempenho dos alunos de
vários países», dados que poderão «encorajar
os alunos e os professores a aprender e a ensinar melhor e as
escolas a serem mais eficazes». «Além do mais»,
acrescentam os organizadores do Programa, «oferecem às
autoridades centrais um instrumento de monitorização do
rendimento escolar».
Acrescente-se que o PISA começa este ano a ser testado em
escolas-piloto, sendo em 2000 lançado um mega-inquérito com
testes incidindo em três domínios - língua materna,
matemática e ciências -, não tanto com o objectivo de
averiguar o que os alunos sabem numa determinada área, mas para
avaliar as suas competências numa visão interdisciplinar e
transversal. Os resultados serão apresentados no ano seguinte,
estando prevista a novidade de haver novos inquéritos de três
em três anos, o que permitirá uma actualização completa dos
dados de nove em nove anos.
A importância estratégica de um estudo comparativo desta
envergadura na área socio-educativa parece de uma tão larga
evidência, que seria grosseiro admitir que algum governo de um
país da OCDE o não integrasse.
Afinal, o que se afiguraria grosseiro sequer admitir, acabou por
se tornar numa insultuosa realidade.
Para grande estranheza dos responsáveis do PISA, um país - um
único, entre os 29 que integram a OCDE - não participa neste
Programa por recusa expressa do seu governo.
Esse país é Portugal.
A secretária de Estado para a Educação, Ana Benavente, não
podia ser mais elucidativa nas explicações que carreou para o Público.
«Isto é realmente muito confuso», desculpou-se
ela, mas «Portugal vai participar em tudo, estará em
todas as reuniões preparatórias, fará todo o acompanhamento do
processo».
Vai «participar em tudo», menos no essencial: a realização do
inquérito nas escolas portuguesas. E porquê? Por «uma
manifesta falta de capacidade», confessa tranquilamente
a secretária de Estado, esclarecendo que quem iria
operacionalizar os testes do Programa da OCDE a aplicar nas
escolas e nos alunos portugueses seria o Gabinete de Avaliação
Educacional (GAVE), mas este tem muitas tarefas às costas
(provas aferidas no 4º, 6º e 9º anos, exames do 12º ano,
etc.) Ora - conclui Ana Benavente -, «tudo isto envolve um
esforço brutal de logística, não podíamos estar a acrescentar
ainda a recolha de 4500 questionários».
«Não podíamos»?!... Então pôde-se erguer, uma EXPO ao ritmo
duma derrapagem financeira galopante, pôde-se construir uma
ponte nova e remodelar uma ponte velha com o dobro das dezenas de
milhões de contos previstos e não se pôde organizar a recolha
de uns pobres 4500 questionários para um Programa educacional,
cuja preparação tem tanto tempo de vida como o próprio Governo
que Ana Benavente integra e António Guterres chefia?!...
Perante isto, resta-nos pedir ao Sr. Primeiro-Ministro que, ao
menos, não repita ser a Educação a sua «paixão».
É que tanta demagogia já não envergonha apenas o Governo, mas
todo o país. Henrique Custódio