4ª Assembleia da Organização Regional de Lisboa
Um esforço colectivo
para crescer e intervir


Conscientes do actual contexto político e das dificuldades objectivas que ele coloca à afirmação do projecto de sociedade do PCP, os comunistas do distrito de Lisboa estão dispostos a lutar para alterá-lo e manifestam-se convictos de que existem condições para «crescer, ultrapassar obstáculos e vencer este desafio», conforme proclama a Resolução Política aprovada pela 4ª Assembleia da ORL, realizada no passado sábado em Lisboa.

Nos trabalhos participaram 782 delegados e muitas centenas convidados que encheram quase por completo a espaçosa sala Tejo, do Pavilhão Multiusos. Durante todo o dia, foram feitas 37 intervenções, mas muito ficou por dizer já que não houve tempo para dar a palavra a 47 dos delegados inscritos para falar. Não obstante, foi feito um exaustivo balanço da organização, da sua intervenção actual, das medidas tomadas no último ano com vista ao seu reforço, e definidas as orientações e prioridades de trabalho para os próximos tempos.
A ideia de luta e confiança, que atravessa toda a Resolução Política aprovada com apenas um voto contra e três abstenções, resulta sobretudo dos «avanços importantes» que, como sublinhou Carlos Carvalhas no encerramento da Assembleia «devem continuar para abrir mais decididamente o trabalho das organizações locais do Partido para os problemas concretos dos trabalhadores e das populações».
Como salientou o secretário-geral do PCP (ver intervenção nas páginas centrais desta edição), «as medidas tomadas pela ORL, nomeadamente a criação de organismos específicos para a ligação aos trabalhadores, o contacto com trabalhadores em centenas de empresas do distrito, mostraram ser um caminho muito positivo e de grandes potencialidades que é necessário prosseguir».

Visão realista

Na opinião de António Andrez, membro da Comissão Política do PCP e do executivo da DORL, que interveio na abertura dos trabalhos, a Resolução Política propõe «uma visão realista, mesmo aceitando como referem alguns camaradas, que tenha uma dose de algum voluntarismo».
Depois de reconhecer como «uma verdade indiscutível» que o Partido tem perdido influência social, política e eleitoral, muito embora continue a ser uma força determinante no distrito de Lisboa, Andrez afirmou que «temos condições para travar este processo, temos condições para crescer (...) podemos trabalhar melhor».
As deficiências a superar passam sobretudo pelo aproveitamento das capacidades, pela responsabilização de quadros e das organizações, pela criação de espaços de debate e de iniciativa política, pela ligação às empresas e sectores da classe operária, pelo aumento geral da participação dos militantes na vida do Partido e pelo seu rejuvenescimento.
O «segredo» para uma maior eficácia, como referiu Andrez, está na própria Resolução Política: «o Partido (...) é uma construção colectiva que existe também na medida em que cada comunista se associa à procura colectiva das soluções e ao esforço para a sua concretização».
Para tanto, a ORL conta essencialmente com um «forte e influente núcleo activo, composto por muitos milhares de camaradas com uma grande capacidade e uma grande experiência». Como explicou António Andrez, são militantes «com um grande capacidade e grande experiência, que têm como campo de intervenção prioritária o trabalho de organização do Partido, a intervenção no movimento sindical, nas comissões de trabalhadores, nas colectividades e nas mais diversas organizações, associações e movimentos de massas, a intervenção nos órgãos de poder local e noutras instituições».

Junto dos
trabalhadores

Em síntese, a Assembleia definiu principal prioridade a concentração de meios e energias no reforço da organização e da intervenção do Partido na classe operária e entre todos os trabalhadores. Neste sentido foi decidido dar especial atenção aos sectores e células de empresas; aos grandes pólos de concentração de trabalhadores e de futuros trabalhadores; às jovens gerações de trabalhadores; ao desenvolvimento e reforço da natureza de classe do movimento sindical unitário; à necessária alteração do estilo e conteúdo de trabalho das comissões concelhias, a quem cabe um papel importante nesta área.
A par do rejuvenescimento e renovação da organização, que implica não só o recrutamento de jovens como a sua integração e responsabilização a todos os níveis da estrutura partidária, grande importância é ainda dada aos núcleos de contacto através dos quais se tem estabelecido uma «efectiva rede de contactos» que une todo o Partido, bem como aos plenários mensais a dia certo, e ao funcionamento regular dos colectivos.
A valorização do Avante! e de O Militante são ainda aspectos salientados pela Resolução Política, que apela à intensificação do trabalho nas frentes da informação e propaganda e dos fundos, esta última como base material indispensável à concretização das resoluções políticas aprovadas.
A Assembleia deu particular realce às comemorações dos 25 anos do 25 de Abril, tendo aprovado como objectivo recrutar até lá 250 novos membros do PCP.

O apoio às populações

Num distrito que altamente povoado e com graves carências em várias áreas, os comunistas são desde há muito aqueles que têm apoiado e dinamizado os mais diversos movimentos populares em torno de reivindicações concretas para melhoria da qualidade de vida.
Neste sentido, a Assembleia aprovou um documento que afirma a necessidade de uma política de esquerda, «que só o reforço do PCP poderá assegurar», e apresenta um vasto conjunto de medidas nas mais diversas áreas: direitos laborais; cuidados de saúde, educação e ensino; cultura e património cultural; cultura física e desporto; habitação; ambiente; rede viária e acessibilidades; rede pública de transportes; comunicações e telecomunicações; acesso à Administração e Justiça; toxicodependência e combate ao narcotráfico; segurança e tranquilidade pública, entre outras.
Este documento, juntamente com o projecto de Resolução Política, foi submetido ao debate de todas as organizações da ORL, que envolveu milhares de militantes, de que resultaram centenas de alterações e contribuições que enriqueceram a versão final.
A nova direcção eleita reflecte um esforço de rejuvenescimento e destaca-se a significativa percentagem de mulheres eleitas (30,2%). Refira-se ainda que aumentou o número de operários (de 34 para 37%), estando igualmente representados empregados (31%), quadros técnicos e intelectuais (26,3%), estudantes (4,9%), e um agricultor e um empresário.O novo organismo conta agora com 129 camaradas, mais dez do que na anterior direcção, dos quais, 39 são mulheres, e 18 têm menos de 30 anos, o que contribui para uma média de idades de 44,1 anos.


«Avante!» Nº 1314 - 4.Fevereiro.1999