Em greve,
mas contra o «agente único»
CGTP
demarca-se do SMAQ
A Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores Ferroviários Portugueses recusa qualquer responsabilidade pela greve convocada pelo Sindicato dos Maquinistas para o perído de 27 de Janeiro a 5 de Fevereiro.
No entanto, a
estrutura da CGTP, numa nota que distribuiu no primeiro dia da
greve do SMAQ, reafirma que «os ferroviários têm razões
acrescidas para lutarem» e mantém um pré-aviso de greve ao
trabalho em regime de «agente único» até ao fim do mês.
Informa ainda que está a mobilizar os trabalhadores para a
jornada de luta desta semana, nomeadamente para as
manifestações de ontem e de hoje.
A concentração de tarefas e responsabilidades no maquinista é
a principal alteração que resulta da implementação de um
acordo entre o conselho de gerência da CP e o SMAQ. A troco de
um irrisório aumento salarial, o sindicato paralelo aceitou que
os maquinistas passassem a circular sem o segundo elemento da
equipa até agora responsável pelas composições em movimento
(o condutor, no longo curso, ou o revisor, nas marchas em
material vazio).
Para a federação, o regime de «agente único» põe em causa a
segurança dos trabalhadores e da circulação, conduz ao
acréscimo de funções dos trabalhadores da carreira de
condução e cria condições para redução de postos de
trabalho. O pré-aviso de greve, em vigor desde 25 de Janeiro,
permite que até às 24 horas de 28 de Fevereiro qualquer
trabalhador da carreira de condução (ferrovia) possa recusar
todos os serviços que impliquem a condução de circulações em
regime de agente único.
Além deste motivo de luta dos maquinistas, a FSTFP/CGTP aponta
como «razões acrescidas» de protesto e combate por parte de
todos os ferroviários as propostas que a gerência da CP e as
administrações da EMEF e Refer apresentaram na revisão dos
acordos de empresa e do Regulamento de Carreiras, as quais,
«se viessem a ser postas em prática, punham em causa postos de
trabalho, os direitos dos ferroviários, e não conduzem à
melhoria salarial reivindicada pelos trabalhadores, numa
perspectiva de aproximação à média dos salários europeus».
Afirmando-se «empenhada numa postura de negociação, sem
abdicar da luta quando ela se justificar», a federação previne
que «não aceitará que, de qualquer processo grevista, resultem
novas situações de discriminação dos trabalhadores».
De má-fé?
O CG da CP decidiu
pôr fim, a partir de 1 de Janeiro, ao direito dos ferroviários
(no activo ou reformados, e respectivos familiares) a concessão
de transporte nas empresas rodoviárias que ficaram a assegurar
os percursos de linha férrea desactivados entre Viseu e Sernada
do Vouga, Aveiro e Espinho (por Sernada do Vouga, Oliveira de
Azeméis e S. João da Madeira), Viseu e Nelas, Pocinho e Barca
dAlva, Beja e Moura, Amarante e Arco de Baúlhe, Viseu e
Santa Comba Dão, Vila Real e Fortunho, Mirandela e Bragança,
Évora e Vila Viçosa, Évora e Reguengos, Estremoz e Portalegre.
A circular da gerência levou a comissão de trabalhadores da CP
a escrever ao ministro da tutela e ao presidente da empresa,
protestando contra a «grosseira violação dos compromissos
solenemente assumidos». A CT, numa nota à comunicação social,
lembra que o ministro João Cravinho, «em sessão pública,
perante todas as organizações representativas dos trabalhadores
ferroviários», declarou que «os direitos dos trabalhadores
serão rigorosamente acautelados». Também o direito às
concessões de transporte foi assegurado «sem qualquer
reserva», acrescenta a CT, citando um ofício do presidente do
conselho de gerência da CP enviado em Maio ao governador civil
de Viseu.
«Quando, onde e a quem foi dito que os direitos adquiridos
estavam acautelados só durante alguns meses» é o que a CT
exige que o ministro revele «preto no branco». «Se esta
resposta não for dada num prazo razoável, reservamo-nos o
direito de considerar que o engº João Cravinho agiu
deliberadamente de má-fé, enganando conscientemente os
legítimos representantes dos trabalhadores», diz a comissão de
trabalhadores.