Angola
E a
guerra continua
Em Angola assinala-se hoje o 38º aniversário do início da luta armada para a independência. A paz continua a ser um objectivo por concretrizar, e o país encontra-se «uma vez mais mergulhado numa guerra de graves proporções levada a cabo por homens comandados pelo criminoso Jonas Savimbi, com o apoio de mercenários de várias nacionalidades», no dizer de uma declaração governamental emitida em Luanda.
De acordo com o
Governo angolano, a guerra atinge duramente as populações,
agrava a miséria e o sofrimento do povo e é maior porque
crescem as evidências do envolvimento e ingerências de alguns
países africanos no conflito político-militar angolano.
«Tal como na madrugada de 4 de Fevereiro em 1961, o povo
angolano deverá erguer-se unido contra o inimigo comum, a
exemplo do que fizeram recentemente com brio e valentia os
combatentes do Cuito, Huambo, Malange e de outras regiões do
país», salienta o documento.
O Governo garante que não poupará esforços no apoio às
Forças Armadas, na sua acção de defesa da pátria até à
liquidação de todos os focos de instabilidade nacional e na
consolidação das instituições democráticas.
A sociedade civil e as organizações humanitárias, refere o
documento, são chamadas a aliar-se aos esforços do Governo
angolano para enfrentar esta nova situação de guerra, que «já
causou vários mortos e feridos e atirou para a desgraça
centenas de famílias em busca de melhor segurança, mantendo-as
na condição de deslocados na sua própria terra».
No seu comunicado, o Governo apela a uma luta sem tréguas contra
o inimigo comum que semeia o luto, a dor e adia a paz e
tranquilidade, «sem olharmos às convicções políticas ou
religiosas de cada um para que o povo tenha um futuro melhor, bem
estar e prosperidade».
Um outro apelo é lançado a todo o povo, de Cabinda ao Cunene,
no sentido de se redobrar a vigilância, engajando-se com afinco
nas tarefas da defesa e da produçäo, com vista a materializar o
programa do governo que visa superar a actual crise
sócio-económica que o país atravessa.
Novo governo
O Presidente José
Eduardo dos Santos empossou no sábado passado o novo governo
angolano. O elenco governtaivo tinha sido anunciado e nomeado no
dia anterior, altura em que Eduardo dos Santos, discursando
perante a Assembleia Nacional (ver caixa), deu conta da sua
decisão de suspender temporariamente o cargo de
primeiro-ministro e passar a acumular essas funções.
«A nossa primeira prioridade é o combate pela paz ou, por
outras palavras, fazer guerra para atingir a paz», disse o
Presidente, garantindo que as Forças Armadas Angolanas (FAA)
vão passar a ter todo o apoio para continuar o combate contra as
forças da UNITA de Jonas Savimbi, a fim de poderem «consolidar
as vitórias» que têm obtido na defesa da integridade
territorial e segurança no país.
A segunda prioridade anunciada por José Eduardo dos Santos é a
criação de condições estruturais favoráveis ao relançamento
da economia. «O aumento da produção tem que ser, a partir de
agora, uma orientação fundamental com um esforço de
recuperação da produção material, alargamento da zona de
segurança em todo o país e implementação de programas
favoráveis», disse.
Eduardo dos Santos anunciou a criação imediata de um grupo de
trabalho para estudar as condições e medidas tendentes à
aplicação daquelas directrizes, integrado pelos ministros das
Finanças e do Planeamento, pelo governador do Banco Nacional de
Angola e por representantes de outras estruturas governamentais
ligadas à economia.
O novo Governo integra, de acordo com o estipulado nos acordos de
Lusaca, quatro elementos da UNITA renovada.
Reacções
Para a UNITA de
Jonas Savimbi as medidas tomadas por Luanda para fazer face à
situação de guerra que se vive no país não passam da «queda
da máscara de 'democrata' que José Eduardo dos Santos envergava
desde 1991».
Num comunicado datado de segunda-feira, do Bailundo, o Comité
Permanente da Comissão Política da UNITA refere que, nesse
período, o presidente angolano apenas se adaptou «aos ventos da
democracia que, também em Angola sopraram, graças ao
sacrifício consentido pelos verdadeiros patriotas, sob a
bandeira da UNITA e a liderança do dr.Savimbi, na luta contra o
corpo expedicionário russo-cubano».
A UNITA considera que a decisão de José Eduardo dos Santos de
concentrar «todos os poderes nas suas mãos, se ajusta
perfeitamente à natureza do seu regime e não visa senão a sua
legalizaçäo», pelo que, neste contexto, «não resta à
Resistência Popular senão aprimorar a sua organização, por
forma a agigantar-se até que José Eduardo dos Santos volte à
razão».
Posição bem diferente foi a posição tomada pela Assembleia
Nacional angolana, que a 27 de Janeiro aprovou por unanimidade
uma resolução apelando «a todos os órgãos de soberania,
instituições do Estado e aos cidadãos no sentido de accionarem
todos os mecanismos e procedimentos legais que levem à
responsabilização nacional e internacional, criminal e civil,
de Jonas Savimbi e de todos os seus colaboradores directos».
Recorda-se que na Assembleia têm assento sete dezenas de
parlamentares da UNITA.
Uma outra moção aprovada igualmente por unanimidade na
Assembleia responsabiliza pelo reacender da guerra a Missão de
Observação da ONU em Angola (MONUA) e a comunidade
internacional. «Manifestamos a nossa indignação e revolta pela
forma complacente, muitas vezes conivente e discriminatória,
como a comunidade internacional tem agido no desempenho do papel
que lhe foi conferido pelos acordos de paz, facilitando o
rearmamento, preparação e reorganização da guerra em Angola
por Jonas Savimbi», - refere o texto. A moção recomenda que
«seja dada por finda a missão da MONUA» e apela ao Governo
para que exija às Nações Unidas a divulgação dos resultados
do inquérito sobre as circunstâncias que levaram à morte do
anterior representante especial da ONU em Angola, Alioune Beye.
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