Parlamento
Europeu
Custos da PAC
podem ser renacionalizados
O Parlamento Europeu, reunido em sessão plenária na semana passada, em Bruxelas, deu o seu parecer sobre as propostas de reforma da Política Agrícola Comum (PAC) apresentadas pela Comissão Europeia, no âmbito da Agenda 2000, abrindo caminho à renacionalização dos custos da Política Agrícola Comum (PAC).
A posição assumida
pelo PE é particularmente preocupante pelo facto de, no que se
refere ao financiamento, abrir a possibilidade de introdução do
princípio do co-financiamento da PAC, dando seguimento a uma
proposta apresentada pelo deputado Arlindo Cunha, em sede da
comissão parlamentar da agricultura. Como referiu na sua
intervenção o deputado do PCP, Honório Novo, «com esta
porta aberta por este deputado português será certamente mais
fácil proceder-se à renacionalização dos custos da PAC,
agravar-se-ão ainda mais as discriminações e as consequências
negativas para a coesão interna, desrespeitar-se-ão os
próprios Tratados e por-se-ão em causa princípios básicos de
solidariedade».
De acordo com a proposta da Comissão, a aplicação da noção
de co-financiamento implicará, para o período de 2000 a 2006,
uma despesa de 25-30 milhões de contos por parte do Estado
português. Para além de, neste processo, os parlamentos
nacionais serem confrontados com a inscrição orçamental
obrigatória desta despesa, perderão competências decisivas que
detêm e nem sequer poderão participar na definição das
políticas correspondentes.
As decisões aprovadas pelo PE, apesar de atenuarem alguns
aspectos mais negativos das propostas da Comissão, não
respondem à necessidade de uma reforma real da PAC. De facto,
este conjunto de propostas segue e aprofunda as orientações da
reforma de 1992, agravando as discriminações entre
agricultores, regiões e produções que esta introduziu (ao
que tudo indica, o escândalo despoletado em 1992 pelas
estatísticas que mostravam que 20% dos agricultores usufruíam
de 80% das ajudas, pode inclusivé agravar-se), com
consequências profundas na diminuição das explorações
agrícolas, na desertificação do mundo rural e na
pauperização das pequenas e médias explorações e da
agricultura familiar. A proposta de reforma da Comissão Europeia
continua a privilegiar as culturas continentais (carne, leite e
cereais) em detrimento das culturas mediterrânicas, prosseguindo
orientações que prejudicam claramente países como Portugal.
Uma
participação crítica,
determinada e construtiva
Os deputados do PCP,
que votaram contra as propostas de regulamento da Comissão e
respectivos pareceres do Parlamento Europeu, apresentaram um
conjunto de alterações aos documentos em discussão. O facto de
efectuarem uma avaliação negativa dos documentos em discussão,
não impediu, antes incentivou, a apresentação de propostas
realistas e responsáveis com o objectivo de contribuir para a
implementação de outra orientação à actual reforma da PAC.
Uma delas, com o objectivo de rejeitar o princípio do
co-financiamento por violar o princípio da solidariedade
financeira da PAC e o próprio Tratado da União Europeia, foi
recusada pelo plenário, com o apoio da generalidade dos demais
deputados portugueses.
Com o objectivo de pôr termo aos actuais desequilíbrios na
distribuição das ajudas, os deputados do PCP apresentaram uma
proposta que preconizava a modulação das ajudas com base na
mão-de-obra assalariada e familiar, podendo os Estados-membros
utilizar mesmo outros critérios, desde que aceites pela
Comissão. As poupanças nacionais assim geradas seriam
destinadas aos pequenos e médios agricultores e para a
concretização de medidas agro-ambientais. Simultaneamente, ao
nível comunitário, propunha-se uma modulação que criasse um
limite máximo de ajudas de 240 mil euros por agricultor
(aproximadamente 48 mil contos), acompanhado de um aumento das
ajudas para os agricultores que recebam menos de 5 mil euros
(cerca de mil contos). Refira-se que, actualmente, só em
Portugal, há 74 agricultores a receber 66 milhões de escudos
por ano (!), situação que, a atender aos resultados destas
votações, corre bem o risco de se manter. Escusado será dizer
que a proposta do PCP foi rejeitada.
Em relação às culturas arvenses, o PE decidiu pelo aumento da
taxa de pousio obrigatória de 0% para 10%, rejeitando uma
proposta dos comunistas portugueses que pretendia estabelecer uma
percentagem máxima de retirada para o pousio voluntário. A
proposta que preconizava o aumento dos pagamentos por tonelada
das proteaginosas e cereais foi igualmente rejeitada, acabando
por não haver qualquer aumento.
Na discussão sobre a carne de bovino, o plenário acolheu uma
proposta do PCP que estabelece um maior controle da reserva
nacional, devendo estas permanecer em regiões montanhosas e
desfavorecidas. Ao mesmo tempo, deve-se garantir que, sempre que
um produtor cesse a sua actividade e não transfira a produção,
os seus direitos reverterão para a reserva nacional.
Outra das alterações aprovadas, que contribuiu para atenuar
ligeiramente as propostas da CE, foi o financiamento de medidas
de apoio à comercialização de produtos regionais tradicionais.