BALCÃS
Luta pela paz


Tambores de guerra voltam a soar nos Balcãs. Uma vez mais a Jugoslávia é o alvo a abater. Desmembrada por ínvios processos em 1991-92; imposta à Bósnia, depois de ensanguentada e retalhada, a "pax" americana de Dayton em 1996, ficando até hoje ( e até quando ? ) sob a tutela do vice-rei Westendorp, apoiado por 30.000 militares estrangeiros ; após manobras várias para desfazer por dentro Sérvia e Montenegro - sobreveio então o tempo de activar a "bomba" do Kosovo, mantida anos cuidadosamente de reserva, para agora desmembrar ainda mais a restante Federação da Jugoslávia. Cujo pecado capital, imperdoável, é teimar em manter a sua soberania e não querer incorporar-se nas malhas da NATO, como os seus submetidos vizinhos foram levados a fazer.

Auto-arvorados intérpretes duma pretensa "comunidade internacional" arrogam-se o "direito", que também dizem "dever", dito "humanitário" , de exercer o que chamam "diplomacia". À boa maneira antiga da cenoura e do cacete, mais este que aquela: ameaças, chantagens, subversões, provocações, sanções, boicotes, força militar, etc. Isto é voltar ao tempo dos "diktats" e agressões de má memória na região, e não só. À vez ou em grupo, ora esta ou aquela, sempre as mesmas grandes potências imperialistas lutam por recuperar ou ganhar velhas ou novas "zonas de influência" na geo-estratégica região dos Balcãs. Com olhos postos também mais além, no Próximo Oriente e no Cáucaso e no Cáspio, em suma, no petróleo...E fechando o cerco militar da NATO à Rússia - a qual com razão se inquieta com tais exemplos e vizinhos às suas portas. Como sempre, montam-se convenientes episódios chocantes e orquestra-se uma avassaladora campanha desinformativa nos media para confundir e anestesiar a opinião pública. E repetem-se os factos consumados para banalizar uma autêntica subversão do direito internacional.

São os bandos terroristas kosovares, postos em acção em 1996, e desde então alimentados por abundantes apoios externos ( incluindo da mafia que domina o narcotráfico na Suíça, na Albânia, na Alemanha, nos países nórdicos, e outros países do leste da Europa - vejam-se repetidos relatórios do Observatório Geopolítico da Droga ), com bases de apoio e agressão na Albânia e na zona fronteiriça da Macedónia , sob a cobertura de forças militares da NATO - são esses bandos, hoje UÇK ( "Exército de Libertação do Kosovo") forte de 15.000 homens devidamente armados, que recusam intransigentemente a negociação e provocam a escalada da guerra. Para esses , vai o reconhecimento de facto, e prestes de jure, da dita "comunidade internacional". A Jugoslávia, Estado independente cuja integridade deve ser inviolada, há muito e repetidamente se propõe negociar uma solução pacífica para a região do Kosovo, com larga autonomia no quadro soberano do seu Estado. Pois é para a Jugoslávia que vai o insulto, a ameaça, e em breve as bombas "humanitárias", alegadamente para a obrigar a negociações que são os terroristas kosovares que não permitem ...Uma vez mais, dois pesos e duas medidas.

Não é infelizmente situação única no mundo, como justamente assinala a resolução da última reunião do CC do nosso Partido. Os bombeiros - pirómanos que se acobertam sob o manto diáfano da " comunidade internacional " para impor os seus interesses imperialistas nus e crus , estão a instalar no mundo a desordem sob o nome de nova ordem . Motivo de justa inquietação para quem tem memória histórica de outras hecatombes bélicas deste século. Razão ainda maior para dar mais força à luta pela paz, pelo desarmamento, pela dissolução dos blocos militares. E para, no nosso país, reclamar do "governo português que respeite o direito internacional e a Carta da ONU, com uma clara demarcação dos propósitos agressivos dos EUA e da NATO". — Carlos Aboim Inglez


«Avante!» Nº 1314 - 4.Fevereiro.1999