Seixal
Ensino - que democratização?


Realizou-se no dia 6 de Feveiro, no Seixal, um debate sobre «insucesso e abandono escolar: que condições sociais para o sucesso educativo?», o terceiro de um ciclo iniciado em Dezembro, no Barreiro, e coordenado pela Organização do Ensino da Direcção da Organização Regional de Setúbal.

No início do debate, e dentro de um princípio organizador mais abrangente - «A escola na sociedade de classes» -, a mesa que coordenou os trabalhos lançou como tema de discussão «que democratização do Ensino na sociedade de classes?».
Ao repto responderam Manuela Esteves e Inês Castro, a quem couberam intervenções de fundo, dinamizadores do debate que se pretendia aprofundado.
Manuela Esteves começou por considerar que a escola, não podendo, por si só, transformar a sociedade, tanto pode ser um instrumento que ajude a trasnformação social ou, pelo contrário, pode servir para manter as desigualdades. A seguir, referiu como as sucessivas políticas de ensino têm acentuado na escola portuguesa o papel reprodutor das desigualdades sociais... apesar dos discursos oficiais em contrário. Estando o PCP, como demonstrou, na frente da batalha pela democratização da escola.
Inês Castro, por sua vez, fez a leitura do problema a partir de uma experiência de luta de muitos anos, vivida numa «escola de risco», como é a Escola Básica 2/3 do Monte da Caparica.
Retomando, pois, a questão inicialmente colocada, perguntou: «será que a escola pode ser inclusiva quando vivemos numa sociedade de classes?». E à própria pergunta respondeu sem reservas: «a Escola Básica 2/3 do Monte da Caparica é um exemplo concreto de que não é possível, porque a exclusão social é transportada para dentro da escola».
Assim, o melhor a fazer é tentar minorar os efeitos da exclusão social, evitando ao máximo que esta se transforme em exclusão escolar, prosseguiu, analisando, contudo, as dificuldades com que se esbarra para atingir esse objectivo. Dificuldades que vão da inadequada formação de professores à ausência de políticas sociais e educativas efectivamente empenhadas na resolção dos problemas.
A partir daqui, o debate generalizou-se. Aceso, emotivo e dinâmico, com intervenções de professores encarregados de educação e elementos das associações de pais, uns assumidamente comunistas, outros declaradamente não comunistas. Todos, porém, com a preocupação comum da construção de uma escola democrática no País.


«Avante!» Nº 1316 - 18.Fevereiro.1999