CT denuncia ilegalidades, desorganização e luta pelo poder
Telecom prepara
novo salto no escuro


Aos protestos dos utentes somam-se graves acusações feitas pelos representantes dos trabalhadores da Portugal Telecom. Na luta pelo poder, parece ter vencido uma «linha dura», liderada pelo novo presidente da Comissão Executiva para as Comunicações Fixas, o homem que foi «o progenitor» da última reestruturação, refere uma informação da Comissão de Trabalhadores, em distribuição ao pessoal da PT.

A CT começa por exigir da administração o cumprimento da Lei 47/79, que faz preceder de um parecer dos representantes dos trabalhadores qualquer reorganização da empresa, de capitais maioritariamente públicos.
Entretanto, por aquilo que conhece da nova reorganização - que classifica como «desorganização» -, a CT interpreta a criação de sub-holdings como uma medida que tem por objectivo separar, a prazo, as várias áreas de negócio da PT e criar empresas distintas. «Isto virá em prejuízo da rede fixa (e da maioria dos trabalhadores) que já suporta uma política comercial altamente discriminatória e retrógrada», afirma a Comissão de Trabalhadores. A dúvida é manifestada sob a forma clara de acusação: «Será que, na lógica da administração, o importante é organizar para vencer o futuro e manter a liderança do mercado, ou pretende manter a instabilidade na empresa, pelo menos, até 1 de Janeiro de 2000, ano da liberalização total das telecomunicações?»

Promoção
do demérito

Depois de recordar, quanto à última reestruturação efectuada na empresa, que «toda a gente sabe que a verticalização foi um grande falhanço, com elevados custos daí decorrentes», a CT expressa o seu espanto por o «progenitor» daquela linha ter visto reforçado o seu poder na PT, ao ser promovido a presidente da Comissão Executiva das Comunicações Fixas. «Como é possível transformar o demérito em mérito», interroga a CT, frisando que, «desde que foi nomeado administrador da PT, em 1995, o novo PCE das Comunicações Fixas tem sido o porta-voz da administração para as questões mais delicadas e, normalmente, com um discurso radical». No comunicado são apontados alguns exemplos, como afirmar que uma empresa que se pretende moderna não pode ter nos seus quadros trabalhadores com a 4.ª classe, ou que há certas pessoas na PT que precisam de uma vassourada, ou ainda defender que a empresa seja limpa dos indesejáveis.
Para a Comissão de Trabalhadores, a nomeação decidida pela administração mostra que, «não satisfeita com o mau trabalho que prestou à empresa e ao País com a última reestruturação (verticalização), aposta agora na fuga para a frente». «Esperamos que não seja mais um empurrão para o abismo», comenta-se no comunicado. A indigitação daquele responsável é também vista como uma indicação de que «na luta de grupos, parece ter vencido a ala dura, liderada pelo novo PCE para as Comunicações Fixas, reforçando desse modo a sua qualidade de comissário político e, segundo consta, com o apoio incondicional do representante visível dos grandes grupos financeiros».
É igualmente contestado o nome do novo director-geral de Recursos, que «não tem história» na PT, «veio para DGR pela mão do representante dos grandes grupos financeiros e, certamente, vai ser um yes-man». Questionando se o novo director-geral estará à altura das responsabilidades, a Comissão de Trabalhadores adianta que, se a sua capacidade «puder ser medida pelo negócio do Brasil, no qual foi o consultor principal, então, teremos de dizer que deixa muito a desejar, tendo em conta que, com a sua preciosa colaboração, a PT esbanjou com o negócio 140 milhões de contos».
Contra as repetidas afirmações de que o negócio do Brasil teria sido um sucesso, a CT desafia a administração a criar «uma comissão idónea para elaborar o Livro Branco da Internacionalização» e a divulgar depois as conclusões.
Apesar do tom fortemente crítico da informação aos trabalhadores, a CT diz que aguarda «com serenidade» a implementação da ordem de serviço que veio definir as novas competências dos administradores da Portugal Telecom. «Como qualquer documento de grandes linhas de orientação, a referida ordem de serviço carece de regulamentação específica, e essa é ainda desconhecida», pelo que a CT espera «que o bom senso prevaleça e que as nomeações, a existirem, sejam com base na competência técnica e humana e nunca na cor política».

Despedimentos?

A Comissão de Trabalhadores regista que, «interrogado o Dr. Murteira Nabo, em reunião com os organismos representativos dos trabalhadores, no dia 9 de Fevereiro, sobre possíveis despedimentos na PT, ele reafirmou que "enquanto for presidente desta casa, não haverá despedimentos"». Mas a CT adianta que o responsável máximo da empresa «confirmou também a existência de 30 milhões de contos para redução de pessoal em 1999, que vão ser aplicados em pré-reformas, aposentações antecipadas, suspensões de contratos e rescisões por mútuo acordo» e afirma que Murteira Nabo «não nos convenceu com as explicações para depois do ano 2000».
A CT admite mesmo que «parece ter sido aprovado» um plano de curto ou médio prazo para redução drástica dos recursos humanos. «Não acreditamos que o PS nacional e os seus homens de mão na PT pretendam criar qualquer conflito social em vésperas de dois actos eleitorais muito importantes, mas atenção às novidades do ano 2000», previne a Comissão de Trabalhadores, reafirmando que «unidos, vamos vencer mais esta dificuldade».


«Avante!» Nº 1316 - 18.Fevereiro.1999