Greve
de solidariedade
em Riba dAve
Os 190 trabalhadores da fábrica da Filda, de Riba dAve, Famalicão, decidiram realizar ontem uma greve de solidariedade com as onze colegas que se recusam a mudar para o turno da noite, disse sexta-feira uma delegada sindical. Maria da Conceição Costa adiantou à Lusa que as onze trabalhadoras que se recusam a mudar do turno da manhã para o da noite vão manter-se à porta da fábrica até que a Inspecção Geral de Trabalho obrigue a administração a respeitar a lei.
A greve tem também
por objectivo pressionar a administração a negociar com o
Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes, numa reunião já
agendada para hoje, nas instalações de Famalicão da
Inspecção de Trabalho.
As funcionárias em luta - que uma nota do sindicato denomina de
«Marias da Fonte» - encontram-se junto à entrada da fábrica,
debaixo de um pequeno coberto, desde terça-feira da semana
passada, quando a administração resolveu impedi-las de entrar
no período habitual de trabalho, entre as seis e as catorze
horas, após terem recusado a imposição da mudança de turno.
«A administração começou por chamar duas trabalhadoras, a
quem quis impor a ida para a pré-reforma sem verem um centavo de
indemnização», adiantou a sindicalista, frisando que, como
ambas recusaram a proposta, «a administração escolheu 11 à
sorte e entregou-lhes uma carta, obrigando-as a mudar para o
turno da noite, em jeito de chantagem».
As funcionárias, que se protegem do frio com recurso a um
pequeno fogareiro e vão tomando cafés que os colegas e a
vizinhança lhes trazem, acusam a proprietária, Maria da
Conceição Pires Ferreira, de «não dialogar com ninguém» e
de as «querer escorraçar, apesar de terem entre 20 e 35 anos de
casa e de sempre terem sido boas trabalhadoras».
«Se a patroa nos chamasse e nos pedisse, por razões de aumento
da produção, para que mudássemos de turno, não teríamos
coragem para dizer não, mas o que se passou foi apenas uma
tentativa de nos vergar e de arranjar motivo para nos despedir»,
acusam, dizendo-se «com saudades» dos anteriores
administradores, familiares dos actuais, que «tratavam os
operários com mais humanidade».
As trabalhadoras não aceitam também o argumento da
administração de que é necessário reactivar o turno da noite
devido ao aumento da produção, já que - garantem - «a
produção se encontra num período de baixa, como é
habitual na época de Inverno».
Como motivos para a recusa em mudar de turno, as trabalhadoras
apontam a idade avançada da maioria, entre 40 e 50 anos, e o
facto de terem filhos e pais idosos para cuidar, que não podem
ficar abandonados de noite. A situação mais dramática é a de
uma operária viúva, que fica sem salário devido à greve e que
as colegas dizem que não tem mais ninguém para a ajudar
financeiramente. A Agencia Lusa tentou ouvir a versão da
proprietária, mas esta recusa-se a receber a comunicação
social.
A Filda - Fabrica de Fiação dos Casais, Lda produz fio e linhas
de coser, não sendo conhecidas dificuldades de tesouraria ou
falta de encomendas.